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Como médicos rastreavam casos de Peste Bubônica há 500 anos

Como médicos rastreavam casos de Peste Bubônica há 500 anos (Foto: Wikimedia Commons)

O rastreamento de contatos foi notavelmente bem-sucedido em ajudar a conter a pandemia de Covid-19 na Coreia do SulAustrália e Alemanha, além de alguns países menores. Usando os sistemas de telecomunicação e vigilância do século 21, os profissionais de saúde nesses locais abriram caminho para identificar aqueles que estiveram em contato com os infectados e, em seguida, testá-los e isolá-los.  Pesquisa de  SAMUEL COHN E MONA O’BRIEN, HISTORIADORES DA UNIVERSIDADE DE GLASGLOW, NA ESCÓCIA.

Sem a tecnologia moderna, o rastreamento de contatos remonta a um longo caminho. O maravilhoso livro de 1987 do historiador americano William Coleman, Febre Amarela no Norte, associa o “rastreamento de casos” às origens da epidemiologia em meados do século 19. A doença é transmitida por mosquitos e não de pessoa para pessoa, mas isso só seria descoberto meio século depois.

Os médicos franceses que combatiam a febre amarela na década de 1840 concentraram-se em encontrar o primeiro caso — o que chamaríamos agora de “paciente zero”. Mais tarde no século 19, eles começaram a prestar mais atenção às conexões entre famílias e pessoas dentro e fora delas.

A busca pela sífilis
As ideias por trás do rastreamento de contatos são muito mais antigas, no entanto. Sua origem remonta ao início do século 16 por conta da “grande varíola”, que viria a ser conhecida como sífilis graças a um poema do médico Girolamo Fracastoro de 1530. Médicos como o célebre anatomista Gabriele Falloppio, diretor de medicina da Universidade de Pádua, a cidadela da aprendizagem médica do século 16, procurou entender as origens da doença usando uma abordagem diferente da normal.

Em vez de confiar apenas no que as autoridades médicas árabes da antiguidade e do início da Idade Média tinham a dizer sobre doenças, Falloppio e outros médicos procuraram rastrear a propagação da doença venérea, recorrendo às histórias contemporâneas, com destaque para os diários de Cristóvão Colombo.

Através destas anotações, eles puderam acompanhar a progressão da doença das Américas para os hospitais de Barcelona. Depois, como a infecção se espalhou por soldados recrutados pelo rei Fernando II de Aragão, e mais significativamente com a invasão da Itália e o cerco de Nápoles, durante o inverno de 1495, comandado pelo rei Carlos VIII da França.

O cerco e a subsequente dispersão dos soldados mercenários de Carlos para suas terras natais foram os “eventos de superespalhadores” que deram força à pandemia da sífilis. Na década de 1530, outro médico, Bernardino Tomitano, também diretor de medicina da Universidade de Pádua, seguiu a disseminação contínua da doença no leste da Europa, vinculando-a ao comércio veneziano.

A rápida disseminação da sífilis ampliou as noções dos médicos sobre a transmissão de doenças e o papel desempenhado pelos hospedeiros humanos. Ainda assim, o exemplo mais antigo conhecido de médicos que rastrearam contatos específicos e redes de doenças não se refere à varíola, mas a uma doença à qual a Europa teve de se acostumar — a peste bubônica. Já o cientista envolvido neste estudo não é tão famoso quanto Falloppio (ou qualquer estudante de Pádua): ele era o médico de uma vila que tinha algumas publicações em seu nome.

 

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