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A briga entre os delegados da Polícia Civil de Picos e a imprensa: uma guerra em que todos perdem

A Polícia Civil é um órgão mais que importante. Por Lei tem função básica de investigar e trazer respostas à sociedade sobre crimes. A Polícia Civil, seus delegados (principal função da carreira policial), peritos, agentes, escrivães e investigadores, têm como outra função o bom tratamento e o respeito ao cidadão.

A imprensa (entre seus meios impressos, online, televisivos e radiofônicos) é conhecida por Quarto Poder. Esse título é dado justamente pela função social de ajudar a esclarecer, noticiar fatos (por mais polêmicos que sejam) e, mais ainda, informar e formar a sociedade.

Polícia Civil e imprensa são órgãos para ajudar a sociedade. São entidades do bem e para o bem. O bom andamento entre essas duas esferas só traz consequências positivas e ajuda a tornar a sociedade menos caótica.

Mas, de uns meses para cá, não é o que temos visto. Ao menos na cidade de Picos, terceiro mais importante município do estado e cidade do interior do Piauí em que a Polícia Civil mais trabalha e em que tem uma imprensa mais profissional e mais preparada, há um grande impasse entre as duas esferas.

Picos tem quase dez delegados da Polícia Civil, todos bacharéis em Direito, concursados (após árduo e disputadíssimo processo seletivo) e com um salário digno e acima da média do que ganha o cidadão normal do Sertão do Piauí.

A cidade também tem mais de 30 veículos de comunicação (entre jornais, sítios de Internet, emissoras de rádio, emissora de televisão, correspondentes de meios impressos e online). Esses meios são feitos por mais de cem profissionais da imprensa. Mais da metade graduados nos dois cursos de Jornalismo do município. Homens e mulheres que lutam pela sobrevivência, muitas vezes com salários muito baixos, mas, de manhã, de tarde e de noite, de domingo a domingo, noticiando e tentando informar melhor a população.

Não sei se por falta de preparo, estresse, ignorância, falta de assessoria ou outros problemas: os nossos briosos e competentes delegados da cidade, praticamente em sua maioria, vêm tratando muito mal a imprensa picoense.

Relatos de porta na cara, expulsões de gabinete, discussões e, principalmente, ausência de socialização de informações têm feito parte dessa conturbada relação. Há delegados, inclusive, que nunca gravam entrevista e nunca mostram a cara. Lembrando que são funcionários públicos, pagos pela sociedade, que, claro, têm o direito ao anonimato, mas nunca ao silêncio, notadamente por serem funcionários públicos.

Um pouco de educação, de bons tratos e, notadamente, do “saber ouvir” e “saber se comunicar” não faz mal a ninguém. Tratar alguém mal, bater porta, se negar a esclarecer algo não dá lombriga na barriga, não cria calo na mão, só gera simpatia e traz respeito. Respeito, aliás, é o que mais precisamos, principalmente porque sequer sabemos os resultados da maioria dos trabalhos da Polícia Civil de Picos, uma instituição feita por homens e mulheres mais que sérios e compromissados.

Vários debates já foram feitos. Inclusive já foi tentado falar com alguns dos delegados da cidade. A responsável pela Delegacia da Mulher é a que mais é reclamada. Este artigo não objetiva apontar culpados, mas destacar uma situação que só tende a piorar. Já foram feitas reclamações à Secretaria de Segurança Pública, principalmente a seu setor de Relações Públicas. Reclamações também foram feitas ao Sindicato dos Jornalistas do Estado do Piauí. Essa demanda é tornada pública porque, com essa rusga é a sociedade que perde, ficando desinformada, inclusive sem saber se estão ocorrendo investigações, prisões, quantos inquéritos são feitos, como são feitos e, até, se a Polícia Civil da cidade tem ou não estrutura para realizar tais trabalhos.

Lembrando aos nobres delegados que a imprensa está para ajudar. E lembrando aos nobres colegas jornalistas que alguns fatos realmente não podem ser noticiados e que os delegados não podem passar o dia todo à disposição, mas que têm, sim, de atender a imprensa.

Uma sugestão: que os delegados possam sugerir a contratação de um relações públicas (a UESPI da cidade formou muitos) ou até um estagiário. Outra sugestão é que possa haver um porta-voz na entidade, alguém que possa falar e esclarecer fatos.

Que a harmonia volte entre os dois setores e que possamos continuar bem informados e bem informadas, com funcionários públicos bem pagos e mais que atuantes.

Orlando Maurício de Carvalho Berti
Jornalista, nascido e criado no Sertão do Piauí, andando e conhecendo um série de faces e interfaces na região de Picos. Professor efetivo (Assistente II – DE), pesquisador e extensionista do curso de Comunicação Social – habilitação em Jornalismo da UESPI – Universidade Estadual do Piauí. Estuda atualmente fenômenos comunicacionais ligados ao Sertão nordestino. Ex-professor e pesquisador dos cursos de Jornalismo da UESPI de Picos e da Faculdade R.Sá. É estudante do último ano do Doutorado em Comunicação Social na UMESP – Universidade Metodista de São Paulo, por onde também é mestre na mesma área. Fez recentemente estágio doutoral na Universidad de Málaga, na Espanha.

 

 

Fonte: Folha Atual

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