Era madrugada em Bangkok, na Tailândia, quando os celulares e e-mails começaram a pipocar com o ofício da CBF suspendendo as duas próximas rodadas do Brasileirão devido às enchentes no Rio Grande do Sul. Uma decisão que a entidade, por si só, não queria tomar, mas teve que acatar, após pedir a opinião dos clubes a respeito.
O que aconteceu
O presidente Ednaldo Rodrigues, mesmo passando o dia — no fuso tailandês — em reunião do Conselho da Fifa e pedindo votos para a candidatura brasileira da Copa feminina de 2027, passou a noite em claro validando os detalhes finais da paralisação. Teve foto ao lado do presidente da Fifa, Gianni Infantino, e tudo.
Às 4h49 (18h49, de Brasília), lá estava ele mandando para um presidente de federação o ofício, via aplicativo de mensagem. O e-mail geral chegou para outras federações minutos depois.
Do Brasil, a coordenação do conteúdo foi feita pelo diretor de competições, Julio Avellar, e o novo diretor jurídico, André dos Santos Almeida. Eles assinaram o papel de forma física. A assinatura de Ednaldo foi feita com recurso digital.
A decisão de Ednaldo sobre aceitar o posicionamento dos clubes já tinha acontecido na segunda-feira (no horário brasileiro), depois que a maioria pró-paralisação foi formada.
Os 11 clubes da Liga Forte União (LFU) puxaram o bloco de apoio ao desejo de Grêmio, Internacional e Juventude. Segundo a CBF, na terça-feira (14) os ofícios dos 15 clubes chegaram à entidade — Bahia, Grêmio, Atlético-MG e Vitória, mesmo fora da LFU, abraçaram a causa.
Alguns clubes, como o Flamengo, foram pegos de surpresa com a canetada imediata. A cúpula do futebol estava a caminho do Maracanã para o jogo contra o Bolívar.
Em tese, a CBF não teria obrigação de franquear aos clubes essa decisão. Mas abriu o caminho quando remeteu a eles o ofício do Ministério do Esporte, na sexta-feira passada (10), pedindo a pausa no Brasileirão.
Ednaldo tenta manter boa relação com o governo. É um momento em que Brasília precisa dar suporte à candidatura brasileira para sediar a Copa feminina. O ministro André Fufuca, inclusive, também está na Tailândia.
Efeitos colaterais?
Ainda que tenha dado voz à decisão dos clubes, a reticência da CBF sobre o tema foi ressaltada aos dirigentes. O calendário é o ponto central da discussão, do ponto de vista da entidade. Internamente, a CBF sabe que esse é um telhado de vidro dela.
Entre os itens listados no ofício da CBF, preocupações até com a possibilidade de efeito dominó nos estaduais de 2025. Isso já deixou algumas federações em alerta, mas não gerou uma repercussão direta para a relação de Ednaldo com elas.
Da parte dos clubes, os que apoiaram a paralisação relataram ao UOL que não se surpreenderam com a medida da CBF — embora a entidade tenha mantido a reunião do conselho técnico da Série A para o dia 27, quando irá debater consequências técnicas e jurídicas da paralisação do Brasileirão e da calamidade no Rio Grande do Sul, como um todo.
A CBF ainda pontuou que há dificuldade de harmonização do calendário por causa do Mundial de Clubes do fim do ano. O Brasileirão está previsto para acabar, inicialmente, em 8 de dezembro. E tem jogo do intercontinental no dia 14, seis dias depois. O histórico recente da Libertadores aponta que a chance de um time brasileiro estar lá é enorme.
Outro ponto: o uso das datas Fifa para reposição dos jogos adiados amplia os desfalques de quem já perde jogadores durante a Copa América.
Fonte: UOL