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Caso Castelo do Piauí: 4 adolescentes estupradas e um assassinato; onde estão os acusados?

Eram 16 horas do dia 27 de maio de 2015, quando quatro adolescentes – duas de 17 anos, uma de 16 e uma de 15 – decidiram ir de moto até o ponto turístico conhecido como Morro do Garrote, na zona rural de Castelo do Piauí. O local, geralmente frequentado por moradores da região, parecia improvável de se tornar cenário de tragédia e horror – mas foi exatamente o que aconteceu.

Após momentos de alegria e descontração entre as jovens no Morro da Garrote, que possui uma vista impecável para a cidade, se preparavam para sair do local, quando foram abordadas por cinco homens – quatro adolescentes e um adulto – que forçaram uma delas a amarrar as amigas a um pé de caju. Elas foram espancadas até perderem a consciência e estupradas ao longo de duas horas.

Um crime de grande impacto para uma cidade com quase 20 mil habitantes. Um passeio de tarde tão rotineiro que terminou em uma noite sombria e devastadora.

Crime

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Adão José – Mentor do crime

Após os atos de violência, as garotas foram jogadas a cerca de dez metros de altura. O mentor do crime, Adão José Sousa da Silva, de 43 anos, ordenou ainda que dois rapazes conferissem se alguma havia sobrevivido, para que a apedrejassem. As vítimas tiveram os seios e olhos furados e os pulsos cortados, segundo relatou, na época, o delegado Laércio Evangelista.

A polícia descobriu o crime contra as adolescentes enquanto investigava um assalto a um posto de combustíveis que ocorreu dois dias depois. Durante as buscas por um dos criminosos foragidos do assalto (Adão), os agentes encontraram duas motos abandonadas no matagal. Na delegacia, familiares das garotas chegaram para registrar o desaparecimento e reconheceram as motos pertencentes às jovens, iniciando as buscas.

Demorou um tempo para entender o que de fato estava acontecendo. E à medida que iam se desenrolando, a gravidade de tudo se tornava ainda maior e mais assustadora.

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Danielly Rodrigues, de apenas 17 anos – morta no dia do crime

Era noite quando as quatro jovens foram encontradas amordaçadas e com ferimentos graves pelo corpo – uma delas estava consciente. Elas foram levadas ao Hospital Municipal Nilo Lima e transferidas para o Hospital de Urgência de Teresina (HUT) e a um hospital particular, por decisão da família. Dez peritos do Instituto Médico Legal (IML) examinaram as garotas e encontraram material genético embaixo das unhas, o que indicou luta com os agressores.

No dia 7 de junho, Danielly Rodrigues, de apenas 17 anos, faleceu. Ela sofreu esmagamento do lado direito da face, lesões pelo pescoço, traumatismo torácico, passou por três cirurgias, mas os médicos não conseguiram evitar as complicações em decorrência das hemorragias na região do tórax. As outras três adolescentes sobreviveram. Duas sofreram lesões pelo corpo e outra sofreu traumatismo craniano e recebeu alta pouco mais de um mês após o crime.

Prisão

adolescentes criminosos
Bento Fernando Oliveira (15 anos na época, hoje 24); Gleison Vieira da Silva (com 17 anos); Izaqueil Visgueira Izaias (15 anos na época, hoje com 24) e Francisco Jhonny Costa Gerônimo (com 16 anos na ocasião e atualmente com 24)

Horas depois que as adolescentes foram encontradas, a Polícia Civil apreendeu os quatro menores envolvidos: Bento Fernando Oliveira (15 anos na época, hoje 24); Gleison Vieira da Silva (com 17 anos); Izaqueil Visgueira Izaias (15 anos na época, hoje com 24) e Francisco Jhonny Costa Gerônimo (com 16 anos na ocasião e atualmente com 24). Todos tinham passagens criminais e eram usuários de drogas. Eles confessaram e entregaram Adão José.

Adão foi preso dois dias depois pela Polícia Militar ao tentar entrar na cidade de Campo Maior. Ele é acusado de furtos, homicídio, tráfico de drogas e porte ilegal de arma, inclusive em outros Estados, como São Paulo, onde era considerado foragido.

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Adão José, mentor do crime | FOTO: Reprodução

Investigação

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No dia 24 de maio, o resultado do exame de DNA, feito a partir de sêmen e sangue dos investigados no laboratório da Polícia Civil de Pernambuco, confirmou a participação de Adão e de dois dos adolescentes.

Na mesma data, 19 testemunhas foram ouvidas no Fórum de Castelo do Piauí, três de defesa e 16 de acusação. No dia seguinte, as três adolescentes que sobreviveram prestaram depoimento ao juiz da 2ª Vara da Infância e da Juventude de Teresina, Antônio Lopes.

Os relatos confirmaram o envolvimento dos cinco no crime. No dia 11 de junho, os quatro menores e os pais deles foram ouvidos pela primeira vez durante audiência.

Condenação

prisao adolescentes

No dia 9 de julho de 2015, os quatro adolescentes foram condenados a cumprir três anos de internação como medida socioeducativa. Na época, foi firmado que o prazo poderia ser estendido, já que os menores seriam avaliados a cada seis meses.

Foram imputados atos infracionais equivalentes aos seguintes crimes: prática de quatro estupros, três tentativas de homicídio e um homicídio. A sentença foi proferida pelo juiz Leonardo Brasileiro, da Comarca de Castelo do Piauí.

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Quatro adolescentes envolvidos no crime | FOTO: Reprodução

Na decisão, foi aplicada uma medida de três anos que daria 24 anos de internação. No entanto, segundo o juiz, o artigo 121 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê que adolescentes permaneçam internados somente até completar 21 anos de idade.

Com a decisão, eles ficaram recolhidos no Centro Educacional Masculino (CEM) em Teresina.

MENOR MORTO POR COMPARSAS NA PRISÃO

Dois dias depois da condenação, o adolescente Gleison Vieira da Silva foi morto por espancamento enquanto estava internado no CEM. Ele foi o delator do grupo e morreu em consequência dos socos e pontapés que levou quando estava dividindo o mesmo alojamento com os outros três menores.  O MeioNews procurou a Secretaria Estadual da Assistência Social (SASC) para saber informações sobre o paradeiro os três. A assessoria da SASC relatou que não possuem “informações onde eles se encontram”.

Um dos adolescentes, morto pelos comparsas na prisão | FOTO: Reprodução
Um dos adolescentes, morto pelos comparsas na prisão | FOTO: Reprodução

CONDENAÇÃO DE ADÃO

No dia 28 de fevereiro de 2018, Adão José de Sousa foi condenado a 100 anos e 8 meses em regime fechado por ser considerado o mentor do crime. A condenação foi lida pelo juiz Leonardo Brasileiro. Adão foi denunciado pelo Ministério Público por porte ilegal de arma, estupro qualificado, homicídio qualificado, tentativa de homicídio, corrupção de menores e associação criminosa. 

Adão, no momento em que foi preso | FOTO: Reprodução
Adão, no momento em que foi preso | FOTO: Reprodução

Relatos sobre aquele dia

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Relatos sobre o dia 27 de maio:

“Tivemos muita dificuldade para conter a população. Quando a gente retornou para o local, estava lotado de gente e as pessoas estavam trazendo as vítimas nos braços. Para mim, foi o pior momento da minha vida como policial, porque a gente mora na cidade, trabalha ali e fica familiarizado com os parentes. Eu atuei por 20 anos em Castelo, cheguei lá quando elas eram crianças e as vi crescer. Aí a gente se depara com isso, os pais totalmente desesperados, pessoas que foram para a frente da delegacia tentar pegar os acusados. Teve um momento em que eu, como ser humano, pedi para que aquilo fosse só um pesadelo que ia passar”, relatou o subtenente Gomes, da Polícia Militar do Piauí.

“A gente se pergunta se poderia ter evitado essa tragédia […] a gente é responsável por mandar prender e soltar. Temos conhecimento nessa área criminal, mas vem uma angústia e uma tristeza muito grande. A gente se pergunta até como poderíamos ter evitado que isso acontecesse. Tinha um maior envolvido e eu já tinha decretado a prisão preventiva dele, mas ainda não tínhamos conseguido prendê-lo. Na hora, me veio essa pergunta: será que foi ele? Será que foi isso? Eu não consegui prendê-lo e ele fez isso?”, desabafou o juiz que atuou no caso, Leonardo Brasileiro.

“O estupro de Castelo do Piauí e o assassinato da Dani foram paradigmáticos. Foi uma luta conseguir enquadrar o crime como feminicídio, queriam deixá-lo como homicídio por motivo fútil, para esconder o estupro. Não tenho dúvida que foi um crime cometido por ódio e desprezo pela condição de mulher”, disse a delegada Eugênia Villa, em 2017.

“Me sinto uma outra pessoa, mais agradecida e muito feliz por estar viva”, disse uma das vítimas do crime, em 2016, a um meio de comunicação.

“Ainda sinto muito medo, medo de tudo. Não ando mais sozinha. Meu pai me leva e me busca na faculdade todas as noites”, disse outra vítima, em 2017.

 

Fonte: Meio Norte

 

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