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Cemitério é encontrado dentro de uma igreja e abre debate sobre história no Piauí

 

Quando o pároco de União (56 km de Teresina), padre Ângelo Marcos, determinou a reforma das paredes e pisos da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios estava planejando que o templo religioso estivesse com nova roupagem para os festejos do padroeiro da cidade, São Raimundo Nonato, em agosto.

Mas quando os operários começaram a escavar o piso para trocá-lo acharam um tesouro precioso para a história do Piauí. Lápides em mármore e túmulos do século XIX, de coronéis, representantes das famílias Castelo Branco e Ferreira, que estão levantando um acirrado debate entre os

habitantes e especialistas de União sobre como as sepulturas deverão ser conservadas e os costumes e hábitos do final do século XIX como o de sepultar sacerdotes e pessoas de prestígio na sociedade nas igrejas.

Os túmulos e lápides encontrados em torno do altar da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios são do capitão Norberto Barbosa Ferreira, morto em 1871; de Olívia Clara da Silva, morta em 1864; de Dona Guimar Jardins Correa, morta em 1870; do cônego Simpliciano Barbosa Ferreira, primeiro vigário de União, morto em 1886; de Dona Luduina Ignez de Castro; dos irmãos Scipião de Carvalho Lobão e Antônio José Lobão, mortos, respectivamente, nos dias 7 de março e 1º de abril de 1864; Emygdio José de Figueiredo Almeida; e de Cleia Bastos Almeida, morta em 1873.

O prefeito de União, Gustavo Medeiros, afirma que João Francisco da Cunha foi integrante da família Castelo Branco, que naufragou quando foi servir no Maranhão, em 1701, e estava morando em São Luís.

Três de seus irmãos estão sepultados em torno do altar da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, Olívia Clara da Silva, João Barbosa Ferreira, que se entrelaçaram com a família Lobão, cujos dois integrantes, Scipião de Carvalho Lobão e Antônio José Lobão, dois dos 41 netos do patriarca da família, Antônio José de Lobão, também estão sepultados na igreja.

“Foram encontradas seis lápides íntegras e uma quase completa, que é a da Luduina Ignez de Castro. As pessoas sepultadas ou com lápides na igreja são das famílias Castelo Branco e Ferreira, o padre Simpliciano Barbosa Ferreira, que foi cônego, descendente de Marcelino José da Cunha e Dom Fernando da Cunha Castelo Branco”, adiantou. A lápide mais antiga é de 1866.

Com a experiência de quem participou da equipe que fez a exumação do corpo de Dom Pedro I, no Rio de Janeiro, o vereador Eduardo Bacelar (PP) disse que foi pensada a exumação dos corpos, mas depois foram ouvidos arqueólogos que acharam que não seriam encontrados mais restos mortais depois de mais de cem anos, uma vez que não houve trabalho de conservação dos corpos.

“Os corpos se transformaram em poeira, não existem mais. A lápide seria mais simbólica, não teve nenhum sarcófago onde os corpos foram colocados”, declarou Eduardo Bacelar.

A Igreja também tem os restos mortais de Manoel Clementino de Sousa Martins, que era comandante das forças legais de combate à Revolta dos Balaios, a Balaiada, que ocorreu no Maranhão, em 1882, no lado esquerdo da epístola. O município de União é separado do município de Caxias (MA) pelo rio Parnaíba.

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O engenheiro Gabriel Moraes Irene, construtor responsável pela reforma da Igreja Matriz Nossa Senhora dos Remédios, disse que o projeto de reforma do templo tem cinco meses e já sabia, por causa das inscrições na frente da Igreja, que existiam túmulos.

“Quando se chegou na área do altar, a gente teve um trabalho mais detalhado e minucioso. A obra parou, uma arqueóloga observou e toda a decisão sobre as lápides será tomada pelo arcebispo de Teresina, Dom Jacinto Brito, e toda a cúpula da Arquidiocese de Teresina”, falou Gabiel Moraes Irene, lembrando que a reforma deverá terminar em agosto para os festejos de São Raimundo Nonato, o padroeiro de União.”Quanto mais cedo for tomada a decisão, melhor para a construção da obra”, falou Gabriel Moraes Irene.

Gabriel Moraes Irene declarou que as lápides têm 14 centímetros de espessura, as inscrições são manuais e lapidadas e podem ter sido importadas de Portugal.Os moradores de União vão ao altar da igreja para fotografar e conhecer as lápides.

“É estranho que as pessoas naquela época sepultassem as pessoas dentro das igrejas, mas a gente tem que entender o contexto”, afirmou o professor de Português Iury Starnyslay, de 28 anos. O vendedor Everaldo Pereira da Silva, o Maninho, achou interessante a forma de escrever as palavras no século XIX.

“O povo escrevia a palavra inocente com dois ‘enes’, mortais com ‘e’ e Emídio com y e com g. É bom conhecer isso, de nossa história”, falou Everaldo Pereira. (E.R.)

Solução para lápides ainda não foi acertada

A reforma na Igreja de União começou há três semanas e na primeira semana foram encontradas as lápides. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) quer a conservação das lápides, mas acredita que a decisão sobre como conservá-las deve ser da Igreja Católica, mas quer ser informado dos procedimentos adotados.

Antônio Carlos Melo, da Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, falou que a solução que deverá ser adotada é a remoção das lápides do entorno do altar para que sejam colocadas nas paredes, solução já adotada em outras igrejas.

A outra alternativa é colocar vidro no altar para deixar expostas as lápides, solução adotada também por algumas igrejas, mas que pode ser descartada, pois segundo o engenheiro Gabriel Moraes Irene, as lápides têm um desnível excessivo em relação ao altar, que tem degraus, o que aponta para a rejeição da proposta do uso dos vidros.

A decisão final será dada pelo arcebispo de Teresina, Dom Jacinto Brito, que vai para União nesta terça-feira, acompanhado do monsenhor Tony Batista e do padre ngelo Marcos.

“A exumação só ocorrerá de for interesse do arcebispo, já que em Teresina houve uma exumação de Dom Severino”, falou o vereador Eduardo Bacelar, adiantando que se houver interesse da Arquidiocese de Teresina, a Prefeitura de União aceita arcar com as despesas para a contratação da arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel, que chefiou a exumação de Dom Pedro I, no Rio de Janeiro, e deverá participar da exumação do corpo de Dom Pedro II, em Petrópolis (RJ).

“Queremos aprofundar mais esses fatos para que a população tenha mais conhecimento deles, do que aconteceu no passado e nossas origens”, acrescentou Bacelar.

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Fonte: Meio Norte

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