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Ciro Nogueira recebeu R$ 7 milhões de propina da Odebrecht, diz PF

senador

No dia 22 de fevereiro de 2019, o delegado da Polícia Federal Cleyber Malta Lopes, encaminhou despacho ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, solicitando a prorrogação de prazo para dar continuidade às investigações do inquérito nº 4407/DF, que foi instaurado para investigar crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro atribuídos ao empresário Marcelo Bahia Odebrecht, a executivos do grupo Odebrecht e também ao senador Ciro Nogueira (PP), que recebeu R$ 7,6 milhões (sete milhões e seiscentos mil reais) do grupo empresarial para atuar no Congresso Nacional em benefício da empresa. A investigação faz parte da Operação Lava Jato.

O Ministério Público Federal pediu ao ministro Edson Fachin, instauração de inquérito para que a Polícia Federal investigasse o recebimento de propina por parte do senador Ciro Nogueira nos anos de 2010 e 2014. A PF descobriu que no ano de 2010 Ciro recebeu R$ 300 mil (trezentos mil reais) para a eleição ao Senado Federal e em 2014 recebeu R$ 1,3 milhão (um milhão e trezentos mil reais) para ajudar seu partido na eleição e mais R$ 6 milhões (seis milhões de reais) para atuar na aprovação da Medida Provisória 613, totalizando assim R$ 7,6 milhões.

O inquérito foi aberto pela Polícia Federal com base em delação premiada dos executivos da Odebrecht, que revelaram terem sido procurados pelo senador Ciro Nogueira com a proposta que a empresa repassasse dinheiro a ele em troca de apoio no Senado Federal.

Entre os interesses da Odebrecht, estava a aprovação da Medida Provisória 613, que visava a criação de medidas com o objetivo de ajudar as operações da indústria química brasileira, com a redução da carga fiscal, concedia incentivos à produção de etanol e à indústria química por meio de crédito presumido e redução de alíquota do PIS/Pasep e da Cofins.

Como funcionava o esquema

Segundo a Polícia Federal, os políticos primeiro pediam valores aos empresários da Odebrecht. Cada pedido era analisado pelas instâncias superiores do grupo empresarial, e os valores eram liberados com base principalmente na importância do parlamentar no cenário político brasileiro e em como ele poderia atuar para ajudar a empresa.

Quando os executivos aprovavam o pedido de dinheiro dos políticos, a demanda era levada ao Setor de Operações Estruturadas (S.O.E.) e registrada em um sistema secreto de contabilidade, onde cada político recebia um codinome. Por último, os valores iam sendo liberados. No caso das entregas feitas em território nacional, era obedecido um esquema, que se iniciava com a S.O.E. definindo valores, a data, local e senha para a entrega. Logo depois um executivo da Odebrech repassava essas informações ao político ou um intermediário. Então por último acontecia a entrega, onde no local e horário agendado, duas pessoas se encontravam, onde um dizia a senha e o outro fazia a entrega dos valores em espécie.

Já em relação aos pagamentos no exterior, os valores eram repassados por meio de operações bancárias entre contas internacionais de empresas off-shore. Parte destas empresas era vinculada direta ou indiretamente ao grupo Odebrecht e parte era vinculada a doleiros e a agentes públicos corruptos.

“Havia rígida fragmentação – e compartimentação – das rotinas e dos dados manipulados em cada etapa do processo de corrupção. O sistema era construído de forma que os participantes da primeira fase (empresários e agentes políticos que ofereciam e solicitavam vantagem econômica indevida) não tivessem conhecimento de quem ou como ocorreria a efetiva entrega de valores”, destacou relatório da PF.

O transporte e a entrega de dinheiro oriundo do esquema de propinas da Odebrecht eram executados por funcionários da empresa de transporte de valores Transnacional.

Participação de Ciro Nogueira

De acordo inquérito da PF, elaborado pelo delegado da Polícia Federal, Albert Paulo Sérvio de Moura, funcionários da empresa Transnacional confirmaram que “efetuaram repetidas entregas de dinheiro na cidade de São Paulo, em apartamento alugado por Lourival Ferreira Nery Júnior, assessor do senador da República Ciro Nogueira. O endereço do imóvel e o nome do recebedor constam em diversas planilhas da Odebrecht”.

Segundo o delegado Albert, as entregas foram confirmadas por funcionários da empresa Transnacional que reconheceram Lourival Nery como o recebedor do dinheiro. Além disso, em algumas conversas no Skype constam informações sobre onze entregas realizadas no endereço do então assessor de Ciro Nogueira na cidade de São Paulo.

O inquérito aponta que em quatro meses, de setembro de 2014 a janeiro de 2015, em São Paulo, o “senador Ciro Nogueira Lima Filho, por intermédio de seu assessor Lourival Ferreira Nery Júnior, recebeu da Odebrecht R$ 7.300.000,00 milhões em espécie, sem registros ou contabilidade regular, para, em contrapartida, atuar no Congresso Nacional em favor pautas legislativas de interesse do grupo empresarial, com destaque para a Medida Provisória 613 (Regime Especial da Indústria Química)”.

Os empresários Marcelo Bahia Odebrecht e Cláudio Melo Filho foram os que atuaram diretamente com o senador Ciro Nogueira, em relação a negociação dos valores, segundo o relatório da PF.

Provas

O delegado Albert afirmou que são extensas as provas contra o senador. “Muito além dos depoimentos e planilhas trazidos pelos empresários, existe todo um acervo documental obtido a partir de fontes externas ao grupo Odebrecht (reconhecimentos, depoimentos, e-mails e arquivos digitais) que leva à conclusão de que Ciro Nogueira, no exercício e em razão da função de senador da República, recebeu e transportou clandestinamente dinheiro de corrupção”, informou o inquérito.

Segundo o inquérito, “em todos estes documentos, há convergência de locais, datas, valores e circunstância que permitem concluir, além de qualquer dúvida razoável, que o senador Ciro Nogueira, em comunhão de desígnios com empresários, doleiros e assessores, praticou crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa”.

Delatores entregam Ciro Nogueira

Cláudio Melo Filho, chefe de Relações Institucionais do grupo Odebrecht, era o homem que fazia contato direto com Ciro Nogueira. Em delação premiada, ele relatou sobre o pagamento de propina ao senador após pedidos realizados em 2010 em 2014.

Na delação, Cláudio Melo explicou que em 2010, Ciro Nogueira pediu dinheiro visando a sua eleição a Senado Federal. Na ocasião, o pedido foi repassado para João Pacífico, que era o responsável pelas regiões Norte e Nordeste. Destacou que em uma conversa com Ciro, ele afirmou que gostava de helicópteros, por isso o Setor de Operações Estruturadas usou o codinome “helicóptero” para identificar o senador. Cláudio Melo disse que foi pago o valor de R$ 300 mil.

Já em relação ao ano de 2014, Cláudio Melo afirmou que o senador Ciro Nogueira, na condição de presidente do Partido Progressista (PP), pediu dinheiro para ajudar a legenda e quem deu encaminhamento ao pedido foi José de Carvalho Filho.

Na delação, José Carvalho disse que foi pessoalmente ao gabinete do senador em 2014 e informou a Ciro Nogueira que havia sido disponibilizado o valor de R$ 1,3 milhão. O delator disse ainda que o senador indicou uma pessoa identificada apenas como Fernando, para ficar responsável por receber os recursos. José Carvalho disse que voltou novamente ao gabinete de Ciro e que foi apresentado a Fernando. Nessa ocasião o nome usado para identificar os pagamentos ao senador, estava como “Cerrado” e “Piqui”.

“Nas duas planilhas do inquérito 4433/DF, ao lado das referências a Ciro Nogueira (“Piqui”), com valores (R$ 500.000,00) e datas (06, 07, 03 e 14 de novembro de 2014), existem anotações de nome e endereço que, confirmados pela Polícia Federal, remetem diretamente a Lourival Ferreira Nery Júnior, assessor do senador investigado”, destaca o inquérito, pontuando que as planilhas apreendidas com vários executivos e de pessoas que participavam do esquema, mostram os mesmo dados referentes aos pagamentos.

Ciro Nogueira traiu seus pares e abocanhou sozinho R$ 6 milhões de propina da Odebrecht

Ainda de acordo com relatório, o ex-executivo da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, está sendo acusado pela Polícia Federal de ocultar informações para beneficiar o senador Ciro Nogueira. Cláudio Melo Filho solicitou em 2014 propina para distribuição entre as lideranças responsáveis pela votação da Medida Provisória 613.

No total, R$ 6 milhões foram destinados a um grupo de parlamentares, mas Cláudio Melo repassou o valor somente a Ciro Nogueira, em 12 pagamentos.

O relatório da Polícia Federal aponta que, “tal fato – a destinação de valores a Ciro Nogueira à revelia de Marcelo Odebrecht – explica a absoluta omissão de Cláudio Mello Filho no que se refere aos 12 pagamentos do’programa piqui [codinome que identificava Ciro Nogueira nas planilhas]”.

Dessa forma, em 2014, Ciro recebeu R$ 1,3 milhão para ajudar seu partido na eleição e mais R$ 6 milhões para atuar na aprovação da Medida Provisória 613, totalizando assim R$ 7,3 milhões. Acrescentando o valor de R$ 300 mil, que foi pago em 2010.

Outro lado

Em nota, a assessoria de Ciro Nogueira disse que as investigações vão comprovar a inocência do senador.

Confira a nota na íntegra:

NOTA

O senador Ciro Nogueira confia na apuração da Justiça e acredita que as investigações irão mais uma vez comprovar a sua inocência.

Assessoria de Imprensa

Fonte: GP1

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