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Danos da Covid-19 no cérebro são semelhantes aos da esquizofrenia, diz pesquisa

Há anos, cientistas tentam decifrar os “caminhos” tortuosos da esquizofrenia na mente humana. Agora, pesquisadores aliaram os conhecimentos prévios sobre a doença psiquiátrica ao estudo sobre a ação da Covid-19 no cérebro e descobriram, surpreendentemente, que as intersecções são mais comuns do que se imaginava.

O estudo, conduzido por pesquisadores da Unicamp, do Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa e do Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM) e publicado nesta sexta-feira (19), revela que os dois quadros de saúde convergem, por exemplo, na aceleração de deficiências cognitivas.

“Percebemos que as similaridades eram maiores do que as diferenças. Uma das coisas que nos deixou surpresos foi ver que proteínas associadas a eventos neurodegenerativos estavam bastante presentes no cérebro dos pacientes com Covid, assim como acontece na esquizofrenia”.

Pesquisas anteriores já haviam indicado que pacientes com esquizofrenia têm risco maior de apresentar a forma grave da Covid, por razões ainda pouco conhecidas pela medicina. Foi partindo desse princípio que o grupo buscou entender como (e se) os mecanismos biológicos das duas doenças se sobrepõem.

🔬 Para a análise, foram utilizadas tanto proteínas dos cérebros de pacientes que morreram em decorrência do coronavírus e apresentaram, principalmente, sintomas neurológicos quanto de pessoas diagnosticadas com esquizofrenia. Os resultados mostraram que:

  • as duas doenças causam envelhecimento cerebral;
  • influenciam sistemas neurotransmissores;
  • comprometem a maquinaria de energia das células;
  • e aumentam o risco de comorbidades como diabetes síndrome metabólica.

Por que isso preocupa?

Segundo Martins-de-Souza, proteínas associadas à neurodegeneração observadas em pessoas com esquizofrenia eram comumente associadas à ideia de que a doença é crônica e, em muitos casos, gera efeitos no cérebro durante muitas décadas. Mas com a Covid foi diferente.

“Quando a gente olhou para os cérebros dessas pessoas com esquizofrenia, eles já tinham [a doença] há 20, 30 anos. É uma doença muito longa e é normal que esses eventos degenerativos aconteçam. Mas para Covid não. Uma pessoa que foi acometida pela Covid e, infelizmente, morreu três, quatro semanas depois, já ter proteínas indicando neurodegeneração é uma coisa muito grave”, afirma.

A longo prazo, uma comunicação entre neurônios prejudicada pode levar ao o aparecimento de deficiências cognitivas (como problemas de memória e raciocínio) e sintomas psiquiátricos.

“Para comparar, é interessante ver o vírus Zika. Ele também é neurotrópico, ou seja, tem uma certa atração pelo cérebro. Quando a gente pega os dados das proteínas que estudamos em células cerebrais de Zika e comparamos com a esquizofrenia, elas são bem distintas. Isso nos mostra que é uma coisa específica da Covid”, detalha o pesquisador.

Disfunção celular

Em 2020, em meio à pandemia do coronavírus, Martins-de-Souza participou de outro estudo responsável por identificar o mecanismo que torna a infecção mais grave em diabéticos: o maior teor de glicose no sangue permite à Covid se replicar mais do que ocorre em um organismo saudável, desregulando o sistema imune e provocando a morte de células pulmonares.

“O que a gente viu também nesse nosso estudo é que existe um comprometimento da maquinaria de energia celular. Isso era algo que a gente já tinha observado para Covid, tinha explorado bastante, mas a gente percebeu que a maneira com a qual essa disfunção é gerada pelo vírus na célula é bastante similar ao que acontece na esquizofrenia normal”, explica o professor.

🔎 O que isso significa? A equipe identificou que os caminhos bioquímicos – ou, em outras palavras, a ação da doença dentro da célula – operam de forma “bastante semelhante”. Para pacientes com problemas metabólicos, como diabetes, essas disfunções celulares tornam os sintomas muito mais graves.

Para os pesquisadores, o mapeamento de convergências entre as duas doenças abre caminhos para que, futuramente, os conhecimentos sobre Covid sejam utilizados em terapias relacionadas à esquizofrenia e vice-versa.

“Acreditamos que o conhecimento que temos sobre esquizofrenia pode ser útil para entender a Covid. Porque o tipo de disfunção cognitiva que os pacientes com esquizofrenia apresentam é bastante similar ao que a gente vê nos pacientes com Covid. Temos uma série de ferramentas bioquímicas agora para entender o que está acontecendo.”

Na ilustração, coronavírus (em vermelho) se conecta com o receptor de célula (em verde) — Foto: Getty Images via BBC
Na ilustração, coronavírus (em vermelho) se conecta com o receptor de célula (em verde) — Foto: Getty Images via BBC

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: G1

 

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