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Em busca do tempo perdido…

 

Nasci há exatos 56 anos, em Oeiras, numa casa de esquina situada na Rua da Feira, local onde hoje funciona a “Farmácia Popular”, que pertencera aos meus pais, Ditinho Reis e Aldendora Campos, já falecidos. Ano após ano, o meu velho me dizia, nesta mesma data, que, quando vim ao mundo, ao derredor das 2h30min da madrugada, uma vaca rajada sua, proveniente dos Caximbos – fazenda que dista uns 10km da área urbana, então propriedade do meu avô paterno, Natu Reis – veio, juntamente com um lote de gado, pastar no centro citadino. Na hora em que o médico que assistia mamãe, José Expedito Rego – que se tornou meu padrinho de crisma, embora fosse ateu – extraia-me do ventre materno, meu pai, pela janela, estava dando sal com a mão ao referido animal. Lembrava que chorei fortemente e logo ele atinou ser um “menino macho”, como se dizia!

Carlos Rubem

Em 1962, após ter feito um curso técnico em São Paulo, a minha tia materna Rita Campos, professora, trouxe-me de presente uma camisa de malha, cor amarela, com dizeres alusivos à conquista do bi-campeonato mundial de futebol, ocorrido naquele ano, no Chile.

Numa manhã de domingo daquele ano, certamente, encontrando-se a minha família passando uma temporada na Casa-de-Fazenda Canela – construção do último quartel do século XIX, cujo antigo dono foi o meu bisavô Antônio Francisco Nogueira – eis que por lá apareceu, avis rara, um fotógrafo. A meninada que brincava debaixo das árvores foi chamada para ser clicada. Rita Campos, que usava uma camisa polo escura e saia plissada branca, fez-se emoldurar pelos meus irmãos Paulo Jorge e João Henrique. De minha parte, achei por bem reproduzir uma pose que via nas revistas esportivas daquela época: como o meu ídolo, Garrincha, o mais badalado jogador daquela copa do mundo, fazia, agachei-me num só joelho e procurei eternizar o meu largo sorriso.

Interessante: no anverso do quadro da aludida fotografia, parte integrante do acervo iconográfico da casa do vovô Joel Campos, no ano passado, dia em que completava 90 anos, a tia Amália Campos deixou gravado o seguinte registro de seu próprio punho: “Os três patetas, apresentados por Rita de Cássia. Que beleza! Casa da fazenda Canela. Amália, Oeiras – 10.09.13”.

Palhaçada à parte, hoje, dia do meu aniversário de nascimento, mais de 50 anos decorridos daquela foto, quis dividir com os meus familiares – e agora o faço aos meus três leitores – a mesma emoção infantil outrora vivida, recompondo tal instantâneo no mesmo lugar, com as mesmas pessoas. Claro que, o que ficou nesta data registrado, foi uma tentativa aproximada da reprodução do retrato guardado no baú do tempo.

Colhidas as fotos preliminares defronte ao anoso casarão – que será, em breve, restaurado – todos os meus parentes o adentraram. Reminiscências afloraram. Bons momentos vividos e revividos. A mana Amada quase não atravessou o Rubicão, isto é, uma portinhola localizada no fundo do quintal em face da sua gordura exagerada. As minhas filhas Laís e Letícia pregaram uma peça a Paulo Jorge gritando a presença de uma suposta cobra, o que lhe causou enorme susto, ocasião em que, para se proteger, abraçou a nossa outra irmã, Ceiça, tudo gravado em vídeo. Ele sempre foi medroso!

Amada não se conteve. Arrancou do pé de umbu uma verde fruta e procurou comê-la. Aliás, este umbuzeiro foi plantado pelo poeta Nogueira Tapety, falecido aos 27 anos de idade, em 1918, vítima de tuberculose, inspirado vate que muito bem soube cantar a vida e, especialmente, as mulheres.

Tempos atrás, cheguei à Casa do Canela e encontrei três mocinhas, de 13 a 15 anos, apanhando umbus da referida árvores. Elas sabiam quem a teria cultivada. Revelaram-me uma simpatia: “este é o umbu do amor!”. Não poderia ser diferente: fiquei embasbacado!…

Quando todos deixavam aquele rústico ambiente, um motoqueiro que por ali passava parou o seu veículo e puxou conversa com os visitantes e ao final asseverou: nesta casa tem assombração!

Bem. O imaginário coletivo é sempre rico em surpresas…

 

Por:  Carlos Rubem Campos Reis

 

 

 

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