Quando cheguei a casa do Sr. Francisco logo o avistei sentado em uma cadeira de balanço, daquelas bem antigas, já muito cansado da idade, ao me ver chegando logo levantou a sua cabeça em direção ao portão de sua casa, e assim logo se alegrou, para ele não havia felicidade maior que uma visita inesperada. Em seu olhar já podia ser notado a expressão de alegria, logo me convidou para sentar e me cumprimentou.

Estava tudo diferente para ele, ao me convidar para tomar uma xícara de café como para ele já era de costume, pois bebia durante o percorrer do dia 06 xícaras, não em tamanha proporção tendo em vista que a sua saúde não o permitia. Dentro de sua casa, em um cantinho meio escuro onde era o seu refúgio, havia um rádio de pilha antigo, mais conservado, ligado onde o mesmo escutava todos os dias a missa no mesmo horário, poderia fazer sol ou chuva, seu companheiro fiel estava do seu lado.

Sr. Francisco já tinha 98 anos de idade e uma vida toda para contar, com a pele fina e enrugada pelo tempo, fiquei a observar em seus detalhes, logo as lagrimas começaram a cair dos seus olhos, há 09 anos teve um derrame em sua vista que lhe fez perder 90% de sua visão, porem mesmo assim continuou a ser como sempre foi.

Nascido em 09 de outubro de 1917 na cidade de S.A.L Santo Antônio de Lisboa (Aproximadamente 337 km de Teresina), desde pequeno conhecido por Chiquinho, Filho de Manoel serafim de Carvalho e Luzia Marcolina da Conceição.

Aos 11 anos foi morar na fazenda Pitombeira (Zona Rural da cidade de Picos), perdeu sua mãe aos 09 anos de idade e seu pai aos 18 anos, porém, não era filho único, nessa jornada de vida havia mais 05 irmãos, sendo ele o mais velho começou a trabalhar nas vazantes onde plantava e vivia do cultivo do Arroz, algodão, milho e feijão, onde se tinha mais produção no período de inverno.

No decorrer do tempo, os irmãos de Francisco se casaram, só ele que ainda continuava solteiro, até que certo dia lhe foi apresentado uma moça muito bonita, vistosa e bela, cabelos soltos ao vento, olhos da cor de mel, morena que lhe chamou a atenção, Joaquina Maria da Conceição tinha 19 anos, ele logo se apresentou para ela, porem ela não lhe deu muita importância naquele momento, acabando o desprezando.

Logo em seguida Francisco foi até a casa dos pais da moça, lhe pedir em casamento, com a cara e a coragem chegou na casa dela, logo dizendo ” quero casar com sua filha, sou trabalhador da roça, se for do seu agrado eu caso sim com sua filha “porem chegando lá o pai de Joaquina logo lhe respondeu ” só li dou esta resposta daqui há 15 dias”. Afirmou com uma voz grossa.

Francisco ficou aguardando a resposta até que um dia chegou o grande momento, mesmo trabalhando no campo, ele não perdeu as esperanças de conseguir a benção do pai de Joaquina, para o casamento.

Francisco e Joaquina se casaram em novembro de 1943, foram morar no povoado chamado de Mari, onde viveram durante 14 anos, até um dia retornarem novamente para a pitombeira. Os dois tiveram 13 filhos, vivos até hoje.

Por motivos maiores resolveram sair do campo e vieram para cidade, naquele tempo existia poucas casas na cidade de Picos, o que e era mais visto seriam roças e plantios de arroz, Todos os filhos já criados resolveram morar na cidade buscando melhores condições de vida para seus filhos. Mesmo assim não deixou de trabalhar na roça, fazendo ao lado de sua casa um local de plantio.

Sr. Francisco e Joaquina e seus 13 filhos

Sr. Francisco e Dona Joaquina se casaram pela 2° vez quando completaram 50 anos de casados (Bodas de ouro), com a benção do padre.  Em 1994, um acontecimento triste na vida de Francisco, Joaquina sua esposa estava muito doente, foi submetida a passar por uma cirurgia relacionada ao coração e infelizmente veio a óbito deixando seu esposo, filhos e netos com muita saudade.

Sr. Francisco e Joaquina, 50 anos de casados

Mesmo com a perda de sua amada esposa, hoje ele relata “Todos os seus filhos se dominam é faz seu pão e sua família, foram criados e colocados no caminho”.

Com 98 anos de idade, seu Francisco se emociona ao relembrar de sua vida e sua trajetória, motivado de um coração bondoso e generoso, a alegria maior que ele pode ter nesta vida, foi ter construído a sua família com trabalho digno e honesto, nunca deixando faltar nada, se orgulha da família que possui hoje, seus 13 filhos, 41 netos e 23 bisnetos que são os tesouros mais preciosos de sua família.

Gisele Carvalho
Bacharelando em Jornalismo
Faculdade R Sá
Picos-Piauí