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Golpe tenta extorquir mulheres em luto cobrando suposta dívida de maridos, filhos ou pais que já morreram

Pelo menos 15 mulheres em várias partes do Brasil foram alvo, nos últimos meses, de um golpe pela internet especialmente cruel: um homem as procura em uma rede social para cobrar uma suposta dívida deixada pelo parente que morreu.

Em comum, todas ficaram viúvas ou perderam um filho, e deixaram esse fato conhecido publicamente em postagens online ou por seguirem perfis dedicados a ajudar pessoas enlutadas (veja abaixo como se proteger do golpe e o que dizem as autoridades).

A reportagem identificou vítimas em oito estados brasileiros e conversou com quatro dessas mulheres. Nenhuma chegou a ter prejuízo financeiro, mas todas relatam momentos de terror por conta da ameaça, além do sofrimento de ter que reviver os sentimentos da perda.

O perfil usado no golpe

 

As vítimas foram abordadas entre junho e o início de dezembro pelo mesmo perfil em uma rede social, mostrando um nome masculino e uma foto de um homem de óculos escuros e boné, abraçado a uma mulher também de óculos escuros.

A imagem mostra o casal de longe, o que dificulta sua identificação, e não corresponde a imagens já publicadas em sites indexados por mecanismos de busca.

Capturas de tela mostram a evolução das informações públicas do perfil no Instagram que tentou extorquir mulheres enlutadas de pelo menos oito estados brasileiros. Ao longo dos meses, o perfil, com postagens restritas a seguidores, alterou o sobrenome e a informação da bio, além de ter aumentado o número de seguidores e perfis que acompanha na rede — Foto: Reprodução/Instagram

Ao longo de pelo menos cinco meses, o perfil seguiu no ar com a mesma foto. Em novembro, trocou o sobrenome de Fernando Prado dos Santos para Fernando Xavier, apesar de manter o nome de usuário como “fe_prado03”.

Na primeira semana de dezembro, ele já acumulava 127 seguidores e seguia mais de 300 pessoas, além de continuar buscando vítimas. No fim de dezembro, com 151 seguidores, passou a usar o nome Fernando Rider na bio. O número de publicações continuava o mesmo desde agosto: 3.

Para vê-las e saber mais detalhes sobre que perfis o homem segue ou por quem é seguido, só pedindo para segui-lo.

Sua descrição, em agosto, era sucinta: “Deus por todos.” Depois, em outubro, foi alterada para “Filhos, herança da vida”, ao lado de um coração vermelho. Em novembro, ela foi editada, mantendo apenas a palavra “Filhos” e o coração.

Até esta segunda-feira (26), o perfil seguia ativo, apenas com um emoji de estrela na descrição.

Em nota, a Meta, empresa dona do Instagram, afirmou que “atividades fraudulentas que tenham como objetivo enganar, deturpar, cometer fraude ou explorar terceiros não são permitidas na plataforma e recomendamos que as pessoas denunciem quaisquer atividades suspeitas no Instagram e que acreditem que possam ir contra as nossas Diretrizes da Comunidade através do próprio aplicativo” (leia mais abaixo).

‘Se não pagar com dinheiro, paga com a vida’

 

Passava das 11h de 16 de agosto quando Waldilene Maria, de 55 anos, recebeu e aceitou uma solicitação dele em uma rede social, achando se tratar de um casal de amigos. “Às 15h fui ver a mensagem, estava lá: ‘até que enfim te encontrei’.

Achei estranho, aí ele falou ‘a gente vai resolver o assunto do Junior, que ele ficou me devendo’”, contou a moradora do Interior de Minas Gerais. “Aí eu congelei, estava sozinha em casa, pensei ‘que isso, o que tá acontecendo aqui’. Aí ele começou a mandar mensagem.”

A conversa logo se tornou ameaçadora: “Agora já é tarde. Agora já ‘tô’ com seu endereço. E, se não pagar o dinheiro que ele morreu me devendo, paga com a vida”, escreveu o perfil, mais de uma vez.

 

“Não bato, não estupro, não abuso, nem nada. Mas meu revólver faz tudo por mim”, continuou.

“Eu desabei em casa, comecei a mandar mensagem para o meu irmão chorando”, lembrou Waldilene. Ela chegou a receber uma ligação do homem, de um número com código DDD 44, o que levou a Polícia Civil de Itajubá a ajudá-la a confirmar que se tratava de um golpe.

Trechos da conversa que o perfil manteve com Waldilene Maria, na qual ele a ameaça caso ela não pague uma suposta dívida de R$ 800 atribuída ao filho dela — Foto: Reprodução/Instagram

Uma semana antes, o mesmo perfil havia procurado Giovannia, uma professora de 40 anos que vive em Natal, no Rio Grande do Norte. Apesar dos mais de 2 mil quilômetros que a separam da cidade de Waldilene, ela também recebeu a mesma ameaça, dando a entender que o suposto credor conhecia seu endereço e havia estado lá.

“Eu fiquei bem assustada”, comentou, preocupada com a facilidade de alguém descobrir sua rotina.

Ainda em agosto, uma doceira do Rio de Janeiro, que pediu para não ser identificada, foi alvo, mas dessa vez por WhatsApp, de um número também com DDD 44.

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