No Piauí, universitários criaram um grupo em uma rede social para dar carona e baratear o custo das viagens para estudantes que não moram em suas cidades de origem. Em um ano e sete meses o ‘Caronas Piauí’ já chegou a marca de 13 mil participantes, número este que foi recebido com grande surpresa pelo seu criador.
“O grupo é resultado de uma prática muito comum entre os estudantes. Tudo surgiu através da necessidade dos universitários e da minha própria. Para visitar minha família, muitas vezes pegava corona e sabia que muitos estudantes também faziam o mesmo e dessa forma, usei a ferramenta de uma rede social para auxiliar. Juro que nunca imaginei que o grupo cresceria tanto”, afirmou o fundador Tunai Mendes Campos.
A maioria das viagens oferecidas no grupo é intermunicipal e percorrem principalmente o trajeto entre as cidades de Teresina e Parnaíba. O valor da contribuição de cada pessoa por viagem varia até no mesmo percurso, mas o preço é bem inferior ao de mercado.
“As viagens de Teresinax à Parnaíba ou de Parnaíba à Teresina variam em média de R$ 25 a R$ 30, enquanto na empresa de ônibus tradicional custa R$ 60. Os moderadores do grupo não interferem no valor que é pedido para a contribuição, nós deixamos tudo muito livre porque esse é um acordo feito entre quem oferece a vaga no carro e quem deseja viajar. Normalmente, a variação nos valores depende do trajeto e do conforto oferecido”, declarou Tunai Mendes.
Em muitas publicações, onde são oferecidas vagas, os integrantes descrevem mais do que a data da viagem. Além do valor da contribuição, existe também o detalhamento de algumas comodidades. Carros maiores e confortáveis, ar-condicionado e a partida saindo de sua própria casa são alguns dos fatores que podem alterar o valor da contribuição por vaga.
Os integrantes do grupo ressaltam que além da economia com as viagens, o ‘Caronas Piauí’ é uma grande alternativa para quem que gosta de conhecer novas pessoas e fazer amizades. “O grupo é ótimo. Fiz muitos amigos além de conseguir economizar 50% nos custos das viagens que faço pelo menos uma vez por semana. Além de confiável, eu sempre recomendo para os amigos”, revela Alexsandro Sousa, um dos integrantes do grupo.
![Criador do grupo em rede social, Tunai do Piauí (Foto: Arquivo pessoal) Criador do grupo em rede social, Tunai do Piauí (Foto: Arquivo pessoal)](http://s2.glbimg.com/DvSSzvPIaU1Xa0BqYivbxJjzGk4=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2013/07/19/tunai.jpg)
imaginou que a comunidade poderia crescer tanto
(Foto: Arquivo pessoal)
Com relação a segurança nas caronas oferecidas, o criador e um dos moderadores garante que em um ano e sete meses de existência do grupo não houve nenhum tipo de violência, crime ou situação de risco para as partes envolvidas. Segundo Tunai Mendes, o caso mais grave que já ocorreu foi a desistência participantes em algumas viagem sem aviso prévio.
Para manter a organização na comunidade, os moderadores realizaram uma enquete aberta para decidir se haveria punição para o integrante que não comparecesse na viagem combinada. Com 72% dos votos, ficou decidido que o participante que cometer essa infração será expulso da comunidade. De acordo com os organizadores, a medida visa garantir a ordem do ‘Caronas Piauí’.
Em contraponto, segundo o inspetor da Polícia Rodoviária Federal, Raimundo Rameiro, o serviço oferecido na rede social pode ser enquadrado em uma infração do Código de Transito Brasileiro (CTB). “Qualquer taxa cobrada para a realização de uma viagem se enquadra no oferecimento de um serviço, e se isso não é feito por uma empresa devidamente legalizada constitui uma infração ao artigo 231 do CTB”, comenta.
O Artigo 231 do Código de Trânsito Brasileiro prevê que o transporte remunerado de pessoas ou bens, quando não licenciado, salvo casos de força maior ou com permissão da autoridade competente, constitui infração média com penalidade de multa e retenção do veículo.
Usuário frequente do ‘Caronas Piauí’, Alexsandro Sousa relata que a legalidade do grupo já foi questionada pelos próprios integrantes, mas segundo ele, as caronas oferecidas na rede social não visam lucro e, por isso, não constituiria nenhuma infração.
“O grupo é organizado para baratear nossas viagens. A maioria dos integrantes são estudantes e esse é seu único intuito. O que é cobrado por viagem é apenas a divisão da gasolina. O ‘Caronas Piauí’ não tem como objetivo a obtenção de lucro e não oferece um serviço, mas um benefício”, declarou Alexsandro.
![Polícia Rodoviária Federal de Parnaíba (Foto: Ellyo Teixeira/G1) Polícia Rodoviária Federal de Parnaíba (Foto: Ellyo Teixeira/G1)](http://s2.glbimg.com/NOgyKTYN19F6UjPa5uGKkaYB0hw=/620x465/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2013/07/19/polica_parnaiba.jpg)
O advogado e especialista em leis de trânsito Ítalo Cavalcante, confirmou o posicionamento defendido pelos usuários do ‘Caronas Piauí’. De acordo com ele, a visão do inspetor da PRF é válida quando se interpreta o Código de Trânsito Brasileiro no seu sentido mais singular, mas no caso do grupo é importante uma leitura mais ampla da lei.
“Como os próprios participantes afirmam que não se trata de uma atividade com fins lucrativos, o grupo oferece apenas uma ‘solidariedade’ com a divisão da gasolina. As redes sociais ampliaram as formas já conhecidas de amizades e quando se interpreta a lei é preciso considerar essas novas formas de relações. A sociedade mudou e ao interpretar a lei é preciso levar isso em consideração”, afirmou o advogado.
G1 – Piauí