Desde pequeno, entre centenas de sonhos de uma criança que amava programas científicos e documentários, conhecer dois fenômenos naturais estavam no início da lista de desejos: a Aurora Boreal e o Sol da Meia Noite. O complicado de tudo isso é que esses fenômenos só poderiam ser apreciados do outro lado do Mundo. Longe, muito longe das terras piauienses.

Com a mágica Aurora Boreal, estive cara a cara no final do ano passado (lá na Islândia. Mas aí é outra história que prometo contar em breve).

Faltava o Sol da Meia Noite. Mas não tinha grana, tempo e oportunidade.

A grana não apareceu, o tempo é cada vez mais escasso, mas a oportunidade veio em maio deste ano via série de informações e garimpagens por promoções aéreas e de hotéis. Juntei umas milhas no programa Smiles, paguei pouco mais de R$ 400 em taxas aeroportuárias e as passagens aéreas estavam garantidas. Os hotéis consegui em promoções do Hotéis.com (monitorei por 20 dias os melhores preços. Fiquei em hotel quatro estrelas pagando preço de hotel de duas).

Usei o método: não viajar quando todos viajam para aproveitar de cair no mundo quando todos estão voltando (na famosa baixa temporada).

Três meses depois rumava de Teresina, capital do Piauí, para a Noruega, uma aventura de uma semana e meia.

Na bagagem de volta: o Sol da Meia Noite, 2.300 fotografias, férias inesquecíveis e mais uma viagem incrível feita praticamente com os mesmos valores de que se gastaria indo passar uma semana e meia em um resort no litoral do Piauí (a pouco menos de 400 quilômetros de Teresina).

A Noruega é um dos países mais desenvolvidos, lindos, diferentes e mais instigantes do mundo. O povo é muito gentil e educado. E praticamente todos falam um inglês de dar inveja a qualquer britânico. Mas nem tudo são maravilhas: também é um dos mais caros. E o real faz alguns meses que está bastante desvalorizado.

Deu certo. Com menos de R$ 2 mil fui lá para o final do Mundo, fiquei em bons hotéis, passeei um bocado, vi o Sol da Meia Noite, de cara um pouco de Aurora Boreal e hoje conto essa história para você.

MAS O QUE É MESMO O SOL DA MEIA NOITE?

A Terra faz dois movimentos: rotação e translação. O primeiro é quando nosso planeta gira em torno do seu próprio eixo imaginário, de oeste a leste. Tudo isso em velocidade média de 1.666 quilômetros por hora. Diariamente leva 23 horas, 56 minutos e quatro segundos para complementar essa volta. Já a translação é o deslocamento que a Terra faz ao redor do Sol. Cada volta dura, em média 365 dias e seis horas, com uma volta de 930 milhões de quilômetros.

Por conta da translação, há períodos do ano mais quentes e mais frios, quanto mais próximo dos pólos as estações são mais definidas. Por isso, no período do verão, o Pólo Norte fica iluminado por conta da translação com o Sol incidindo 24 horas por dia. No inverno ocorre o contrário, sem Sol, por quase três meses do ano tudo fica muito escuro, é a Noite Polar.

Com sol direto nasce o fenômeno do Sol da Meia Noite que é quando uma parte da Terra, principalmente a região do extremo Norte da Escandinávia (notadamente a Noruega) fica iluminado 24 horas por dia. Não anoitece. É sol em todos os horários do dia.

O verão no Hemisfério Norte ocorre este ano entre 01 de junho e 31 de agosto.

Ir no início de agosto para essa região, além de ser mais barato, também proporcionaria a apreciação do Sol da Meia Noite e de uma série de outras belezas ímpares dessa parte do mundo.

Foi muito estranho, pois aqui no Piauí temos dias e noites praticamente muito iguais. São 12 horas para cada um desses períodos. Abrir a janela do hotel às 2h da madrugada e ver um Sol quase como o de 17h na capital do Piauí é um negócio muito estranho, mas lindo.

O Sol dá espetáculos nessa região do Mundo.

DE TERESINA AO PÓLO NORTE, COMO CHEGAR

A maneira mais rápida de ir de Teresina para o Pólo Norte é via Fortaleza (CE) e de lá pegando um avião até Oslo, com conexão em Lisboa, Portugal pela companhia aérea portuguesa TAP. O trecho custa, em média 50.000 milhas ou R$ 2.000,00 e demora quase 24 horas.

Na ida, para baratear ainda mais a passagem, decidi fazer um loucura maior: ir até Brasília, São Paulo (pois tinha de resolver algumas missões pessoais e acadêmicas) e depois pegar um avião de São Paulo até Buenos Aires (capital da Argentina) e de lá até Barcelona (Espanha). Era um roteiro perfeito para poder visitar dois dos países que mais gosto. O valor de tudo isso? Menos de R$ 600 e mais 35.000 milhas do programa Smiles.

Com mais algumas pesquisas e vontade de conhecer a Finlândia (para fechar a Escandinávia entre os países explorados) paguei mais R$ 450 em passagens (um pouco caro para o padrão de pesquisa de companhias baratas na Europa porque estava com uma mala – se não despacha mala lá – leva apenas bagagem de mão, teria conseguido o trecho pela metade do preço).

Finlândia explorada, seguir rumo a Noruega. Comprei passagens pela Norwegian, uma chama companhia low coast – low fare (as chamadas de baixo custo).

Em se tratando de Escandinávia até uma companhia dessas, que é tida com mais barata, dá de dez em qualquer uma das melhores companhias que fazem vôos internos no Brasil.

Primeira surpresa: conforto. Segunda: poder escolher lugar. Pesquisei e vi que era melhor pegar uma janela, no meio e do lado esquerdo (com possibilidade de melhor visão das paisagens). Mas a Norwegian traria uma grande lição para o Brasil: lá no fim do Mundo, no meio da neve, a 11 quilômetros de altura, oferece conexão de Internet totalmente de graça para os passageiros e sem cair. Como pode isso? Mais ainda: como pode no Piauí, e em vários outros lugares do País, ainda não ter Internet de qualidade em vários e vários lugares? Mistérios da humanidade, mas voltemos para o Sol e enquanto escurecia na nossa saída de Oslo, capital da Noruega, quase 1.800 quilômetros acima, estava Tromsø: o lugar do Sol da Meia Noite e da Aurora Boreal, que facilmente poderia ser chamado de paraíso.

TROMSØ, NA NORUEGA, CAPITAL MUNDIAL DA AURORA BOREAL, QUE NO VERÃO NUNCA ANOITECE

Aquele lugarzinho no meio de vários fiordes (braços do mar que invadem a terra) escondia não só a Aurora Boreal e o Sol da Meia Noite, mas também em um dos locais mais lindos que já vi. Dica: se você quiser passar uma lua de mel ou momentos inesquecíveis de sua vida, pode botar na ponta da lista.

O vôo chegou quase meia noite. E, como era de se esperar, tudo muito claro. Não podia acreditar, realmente não anoitecia. Peguei a mala e rumei para a região central da cidade via o ônibus que, em plena 00h09 saiu do aeroporto. Ele, mais confortável que táxi e ao estilo táxi, nos pega no aeroporto e nos deixa em frente aos hotéis.

Tromsø é uma cidade do tamanho e com a população muito parecida com a de Piripiri, no Sertão Norte do Piauí (quase 70.000 habitantes). Mas uma estrutura urbana de dar inveja à mais moderna cidade do Brasil. O aeroporto é maior do que o de Teresina e recebe cinco vezes mais vôos diariamente que o da capital piauiense. Tem um sistema de transporte público de dar inveja, uma limpeza inigualável. Na quase uma semana que passei nesse lugar só vi a polícia uma única vez e estava ajudando um turista perdido no pacato trânsito da região.

A temperatura estava amena (entre 10º e 20º – em oito meses do ano ali neva – no Verão neve só nas encostas das altas montanhas, tudo derretendo, formando rios e mais rios).

Para se conhecer Tromsø enquanto cidade um único dia basta. Há três interessantes museus (o Polaria é o principal deles). Não deixe de ver a Catedral do Ártico. Os outros passeios são apreciar, nas imediações e cidades próximas todas as belezas naturais ímpares. Dá para ver de Aurora Boreal a ursos polares, bem como contemplar o Sol da Meia Noite, a natureza e até a cultura nórdica e o jeito diferencial do povo dessa região do Mundo.

Bons restaurantes há em quase toda esquina, mas prepare o bolso: a Noruega é bem cara, principalmente em períodos em que o real está desvalorizado.

Mas para tudo há como economizar.

DICAS PARA VER O SOL DA MEIA NOITE E A AURORA BOREAL E ECONOMIZAR UM TANTÃO

Em Tromsø uma garrafa de água mineral facilmente custa o equivalente a R$ 10. Bem que, com o tempo que faz lá: você bebe pouca água.

Comida? Também é bem cara. Mas: como então ir a um lugar desses e não gastar o olho da cara? Simples, pesquisando!

Os cafés da manhã dos hotéis na cidade são espetaculares. É tanto que são chamados de pequeno-almoço. Para os padrões piauienses: mais parecem almoço mesmo que café da manhã. Os cogumelos são mágicos e as gororobas e queijos nórdicos me engordavam quase meio quilo por dia.

Aí está um dos primeiros segredos: com o bucho muito cheio você só vai querer almoçar de verdade lá para 15h, 16h. Assim você, para não bancar o glutão, já economiza uma refeição e à noite pode recorrer aos supermercados. Há dezenas deles e que vendem tudo quanto é tipo de comida.

Dá para fazer todos os passeios a pé: então economiza-se em transporte público. Pesquisando-se em guias da Internet economiza-se em guias locais. Assim, praticamente tudo é economizado em 80%. E se sobrar um dinheirinho: compre os famosos souvenirs. Os mais baratos são vendidos nos supermercados.

E assim você conhece o Sol da Meia Noite, a Aurora Boreal e locais incríveis. Não tem coragem de ir sozinho ou fazer isso em dupla ou grupo, há diversas agências de viagens (físicas e virtuais) que fazem um roteiro espetacular para você. Só prepare o bolso. Geralmente sai o dobro.

E esse foi o Sol da Meia Noite que ilumina os nossos sonhos e as nossas próximas aventuras. Até lá!

Texto e fotos: Orlando Berti, de Oslo e Tromsø, Noruega*