No Brasil a média de pessoas que morrem por causa do novo coronavírus por dia tem se mantido relativamente estável desde o início de junho. A chamada média móvel de óbitos por covid-19 tem variado em torno de mil, segundo dados do Covid-19 Brasil, projeto que monitora a pandemia no país e reúne cientistas de diferentes universidades.
Essa taxa representa a soma das mortes divulgadas pelas secretarias estaduais de Saúde na última semana, dividida por sete. Ela tem esse nome porque varia conforme o total de mortes dos sete dias imediatamente anteriores. A média móvel dá uma melhor noção da evolução da epidemia no Brasil do que os números divulgados a cada dia nos boletins, porque os dados diários flutuam bastante, por uma série de motivos.
E os resultados de exames feitos nos finais de semana são divulgados só no início da semana seguinte, o que infla os indicadores destes dias. Calcular a média ajuda a contornar esses problemas e produz uma visão mais fiel do avanço do coronavírus — e esses dados não só mostram que a situação atual é grave no Brasil, mas que ela ainda pode piorar.
Isso seria uma boa notícia — porque ao menos a taxa parou de crescer exponencialmente — se a média de mortes não permanecesse tão alta. Isso significa que a pandemia ainda está muito agressiva, e, por isso, o total de óbitos está crescendo tanto”, diz Domingos Alves, professor da Faculdade Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto e colaborador do Covid-19 Brasil.
Pandemia está em diferentes estágios no país Dois fatores fazem a média de mortes por dia continuar alta no país como um todo. Ao mesmo tempo, o surto de coronavírus pode estar dando sinais de que está arrefecendo em muitas capitais, mas está a pleno vapor fora delas.
“As fogueiras altas que a gente via nas capitais agora deram lugar a fogueiras menores nas principais cidades do interior, que estão cercadas por uma porção de fogueirinhas”, diz Alves.
Da mesma forma que as tendências de diferentes regiões do país se equilibram e mantêm a média nacional de óbitos alta, o progresso nos grandes centros de vários Estados é anulado pela chegada da pandemia a (ou sua piora em) cidades menores.
Diferentemente dos óbitos, que cresceram até maio, o aumento dos casos continuou até o início de julho e parece ter se estabilizado nas últimas duas semanas. Mas a média móvel diária continua alta: variou entre 37 e 38 mil nestes 15 dias. Stucchi diz que a permanência das médias de casos e mortes em níveis tão altos é um sinal de uma “incapacidade” do sistema de saúde do país.
“Se a gente se mantêm em patamares tão elevados e nada é feito — pelo contrário, estamos reabrindo o comércio —, a pandemia vai ser muito longeva.”
Por Romário Britto com informações do Época Negócios