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O Tesouro Provincial

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Carlos Rubem  (Promotor de Justiça)

A versão segundo a qual, em 1852, quando da transferência da Capital do Piauí de Oeiras para Teresina, a única motivação dos veementes protestos dos nativos, naquela época, se deu em função do dinheiro que continha o cofre estatal.

Tal narrativa, reiteradamente propalada, inclusive de forma jocosa, esconde o verdadeiro sentimento que levou às ruas os indignados oeirenses de então.

Diferentemente do houve quando da mudança da capital do Brasil do Rio de Janeiro para Brasília, a Lei que aprovou a transferência da sede político-administrativa para a Chapada do Corisco, não assegurou, minimamente, qualquer compensação financeira e/ou material para Oeiras. Muito pelo contrário… Além do numerário, operou-se um desmonte de todos os equipamentos públicos da antiga capital, inclusive a mão de obra escrava que pertencia às afamadas Fazendas Nacionais. Pergunto: tudo isto e muito mais, não era razão mais que suficiente para aqueles movimentos populares que ocorreram antes e logo após a consumação do firme desiderato do Conselheiro Saraiva?

Ora, é lamentável que ainda hoje, pessoas desavisadas, deem curso a ideia de que se tratou pura ambição argentária. Absolutamente, não! Quando a arca foi saindo de Oeiras carregada num carro de boi, a população, insatisfeita, a acompanhou até a Ladeira do Maranhão (hoje, Barrocão) aos brados, episódio, inclusive, transposto à tela por diversos artistas plástico.

Não era para menos… Sabia-se de antemão que a cidade iria entrar em decadência, o que de fato ocorreu. Implantou-se a política de levar em conta apenas e tão somente os interesses da corte, os demais que se lascassem! Apesar deste trauma coletivo, nós oeirenses, de geração em geração, mantivemos apego a nossa aldeia, que, no entender do médico e escritor José Expedito Rêgo, “não se trata de bairrismo vulgar, mas uma tomada de consciência por seus filhos, da importância histórica, política e social da terra-berço na formação da comunidade piauiense”.

O cofre do Tesouro Provincial encontra-se hoje, à visitação, no Museu do Piauí, em Teresina. Continua infundindo enorme simbologia aos nossos conterrâneos.

No Sobrado Major Selemérico, em Oeiras, centro cultural mantido pela Secretaria Estadual de Cultura, há uma ampla sala onde abriga a iconografia dos Governadores do Piauí do período republicano. Na culminância das comemorações dos 300 anos de emancipação da Velhacap, que ocorrerá no dia 26 de dezembro vindouro, está prevista a aposição de retratos de todos os Presidentes da Província, naquele prédio que serviu de sede governamental.

A imagem primitiva de N. Sra. da Vitória, depois de passar vários anos na guarda de particulares – assunto sempre recorrente – enfim, em 2015, com toda pompa e circunstância, retornou ao seu nicho, de onde nunca deveria ter saído.

Interpretando sentimento de diversas instituições culturais de Oeiras, peço, suplico, clamo ao nosso conterrâneo Wellington Dias, Governador do Piauí, que se digne de determinar o retorno, no final do ano, do emblemático cofre do Tesouro Provincial a Oeiras, mesmo que venha vazio… Mas se vier com alguns trocados ninguém vai reclamar!

 

Por  Carlos Rubem  (Promotor de Justiça)

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