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Para cientista político, redução das desigualdades não se sustenta em programas como o Bolsa Família

 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem uma nova edição da Síntese de Indicadores Sociais no Brasil.

O estudo, que contém uma série de informações atualizadas acerca das condições de vida da população brasileira, mostra que, na última década, o País apresentou uma diminuição nas desigualdades sócio-econômicas existentes entre os diferentes estratos sociais.

Embora diminuto, o avanço foi importante, tendo sido possibilitado por três fatores principais – a valorização do salário mínimo, os programas de transferência de renda (como o Bolsa Família) e o crescimento econômico da nação.

Este último agente impulsor, especificamente, pode ser fundamental para a manutenção dessa tendência de redução nas desigualdades.

De acordo com o cientista político Cleber de Deus, o contexto econômico internacional tem um peso muito maior do que se imagina no desenho do cenário de distribuição das riquezas produzidas no País.

Ele opina que as crises na Europa e nos Estados Unidos podem ter efeitos extremamente nefastos sobre o contexto sócio-econômico brasileiro. “A continuação dessa crise poderá trazer resultados completamente negativos para o Brasil. Sem exportação, o déficit na balança comercial sofrerá grandes impactos. Nesse caso, a possibilidade de investimentos em setores estruturais estará comprometida. Desse modo, o Estado não terá como suprir demandas para alcançar metas que minimizem as distorções existentes no sistema produtivo brasileiro”, discorre.

Para o cientista, a descentralização do setor industrial apresenta-se como a única solução para reduzir, de maneira efetiva e permanente, as enormes disparidades entre regiões e entre classes sociais no País. “O Estado brasileiro necessita adotar políticas que descentralizem a produção industrial. Enquanto permanecer o modelo concentrador de investimentos no eixo São Paulo – Rio, a persistência das desigualdades será uma constante”, salienta.

Paralelamente, essa desconcentração das indústrias contribuiria para diminuir a vulnerabilidade do Brasil em relação a fatores externos.

Com relação aos programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família, Cleber de Deus ressalta que eles, embora importantes, são apenas paliativos, e, portanto, precisam vir acompanhados por outras ações mais incisivas do governo federal. “Programas de transferências de rendas têm um impacto limitadíssimo para atingir o objetivo de redistribuir renda. A população beneficiada utiliza esses recursos principalmente para usufruir bens de consumo imediato. Não investe tais recursos em educação, por exemplo. Logo, os padrões históricos de desigualdades permanecem estáticos. A redução, como ocorre agora, é pontual e não transforma o quadro estrutural do sistema. Ademais, não poderá existir desenvolvimento somente com a atuação do Estado. O mercado (iniciativa privada) terá de participar desse processo. Sem essa compreensão do papel do mercado na resolução das desigualdades sociais, propostas ou programas implementados exclusivamente pelo Estado não produzirão os efeitos esperados”, observa.

O cientista político destaca, ainda, que os indicadores sociais levantados pelo IBGE e por outras instituições são sempre medidas imprecisas, e enfatiza que um País só alcança o desenvolvimento caso possua uma educação de qualidade, um parque industrial descentralizado, infraestrtura no setor de transporte e inovação tecnológica. “Não serão as políticas de cotas que solucionarão a desigualdade inter e intra-regional brasileira”, conclui.

Portal O DIA

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