Introduzida há mais de 500 anos no Brasil, a galinha caipira, iguaria tão apreciada na culinária nordestina, serve agora como mote para capacitar alunos da rede pública estadual de ensino no seu manejo e reprodução, além de fortalecer a agricultura familiar através de ações desenvolvidas pelo Núcleo de Conservação de Galinha Caipira do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) em União, vinculado ao Campus Torquato Neto.
A participação dos alunos do ensino médio é resultado da parceria entre o Governo Estadual, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Piauí (Fapepi) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o que vem garantindo que jovens oriundos das comunidades circunvizinhas de União recebam uma formação específica sobre o manejo, a conservação e a reprodução da galinha caipira, combatendo, dessa forma, o processo de extinção e promovendo a disseminação de conhecimentos técnicos sobre a sua criação.
Segundo o professor e diretor do Centro de Ciências Agrárias de União, Firmino Barbosa, o importante é apostar na formação desses jovens que vêm da agricultura familiar, oferecendo um tipo de educação que os capacite como multiplicadores em suas localidades de origem. “Esses alunos são estimulados a fazer o papel de multiplicador da informação e a serem futuros empreendedores”, afirma Firmino.
Para Antônio José da Costa, natural da comunidade de Trindade, próxima à União, e aluno do 2° do Ensino Médio do Centro Estadual de Educação Profissional Rural Manoel Otávio, o mais importante de participar das pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo de Conservação da Galinha Caipira é o conhecimento.
“A parte mais importante é o conhecimento, saber manejar esses animais, saber como é o manejo de cada um, etapa por etapa, desde o começo na encubação na chocadeira até o final com a reprodução, e também saber orientar, porque eu estou estudando para ajudar a minha comunidade, esclarecendo sobre os tipos de galinha que são melhores para a região, por isso eu preciso ter conhecimento, para orientar as pessoas”, declarou Antônio Costa.
Para participar dos projetos de pesquisa do Núcleo de Conservação da Galinha Caipira e receber bolsa do Programa de Iniciação de Pesquisa Júnior (PIBIC Jr) do CNPq, os alunos do ensino médio passam por um processo de seleção dentro da própria escola onde são avaliadas as notas, o comportamento, a renda, entre outros critérios. Os aprovados recebem uma bolsa no valor total de R$ 1.200 durante um ano com dedicação de 12 horas semanais, compatível com a rotina escolar.
Dentre as atividades desenvolvidas pelos alunos estão a participação em todo o processo de pesquisa com a galinha caipira, envolvendo desde a produção da ração orgânica utilizada, até a limpeza das chocadeiras, identificação de ovos, como medida, peso e toda a parte operacional da pesquisa.
Para a presidente da Fapepi, Bárbara Melo, despertar a vocação científica nesses alunos é o ganho maior da participação no projeto. “O grande objetivo é despertar a vocação científica de jovens talentos potenciais encontrados no ensino médio. Os egressos desse programa, no geral, ingressam nas universidades em cursos de áreas em que foram bolsistas, o que já vale todo o projeto”, destaca Bárbara.
No Piauí, o Programa de Iniciação Científica existe desde 2004, tendo começado com uma oferta de 40 bolsas. No último edital, lançado em 2012, foram concedidas 200 bolsas de iniciação científica, sendo 62 destas vinculadas a projetos de pesquisa propostos por professores/pesquisadores da rede pública de ensino estadual, o que beneficiou diretamente alunos do Ensino Médio e Profissionalizante do Piauí.
Projeto Galinha Caipira
O Núcleo de Conservação da Galinha Caipira da Universidade Estadual do Piauí, localizado em União, tem como objetivo difundir a tecnologia de criação e o repovoamento dos tipos de galinha caipira específicos do Estado, impedido a sua extinção e promovendo a difusão desse conhecimento através da capacitação de jovens do Ensino Médio e acadêmicos da Uespi
A proposta para a implantação do Núcleo surgiu a partir da pesquisa realizada pelo professor Firmino Barbosa que estuda há mais de 35 anos a galinha caipira. Suas pesquisas na área resultaram num processo de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), assegurando que o manejo, a genética dos tipos encontrados no Piauí e a forma de criação estejam resguardados como patrimônio brasileiro.
A implantação do Núcleo de Conservação da Galinha Caipira contou ainda com o apoio do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Piauí (Emater) e com a Embrapa Meio-Norte.
Atualmente, o Núcleo possui 400 pintos de galinha caipira sendo criados pelo modo artesanal, ou seja, à base de ração orgânica, o que garante uma carne e ovos livres de quaisquer aditivos.
“O nosso objetivo maior é impedir que a galinha caipira se extinga e também distribuir um produto geneticamente certificado, além de dar toda a assistência técnica aos agricultores rurais para que eles possam garantir a sobrevivência da galinha caipira através do empreendedorismo. Queremos que eles entendam que aqui nós temos um modo de criar galinha caipira diferente de todo o resto do Brasil”, afirma o diretor do Núcleo, Firmino Barbosa.
CCOM
