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Alegria reinante

Alegria reinante - Carlos Rubem ( Arquivo pessoal)
Alegria reinante - Carlos Rubem (Arquivo pessoal)

Moro na Coronel Mundico Sá há 32 anos, em Oeiras. Circundada de morros, do meu canto, descortino o pôr-de-sol da minha cidade, como é lindo!

Antigamente, chamava-se rua do Hospital. Assim ficou conhecida porque, na época da Febre Espanhola (1918), um domicílio — vide abaixo —, serviu de enfermeira à desvalida população.

O Hospital da Caridade (1849) já havia virado ruinaria, miseravelmente, em face da transferência da sede do poder provincial para Teresina. Rematada incúria administrativa. A mudança da capital deixou-nos uma sensação de terra arrasada.

A vizinhança é boa, amiga. Ultrapassando a Travessa Mal. Floriano Peixoto, alcança-se a residência que pertenceu ao falecido casal Zeca e Petinha Amorim, musicistas. A sua prole tinha (tem) pendores artísticos. Lugar onde reinava alegria.

Quando tinha três, quatros anos, Gérson Oeirense, meu filho, só vivia naquela vivenda de calçadas alta. Era bem acolhido.

Fugia de casa, reiteradamente. Sentava nas pernas do velho seresteiro, batia na sua enorme barriga. Dona Petinha, como de resto seus familiares, tratava meu pirralho com muito carinho.

Certa feita, Zeca Amorim contou para Gérson alguns relatos acerca do tio Gerson Campos (1934 – 1973), poeta, boêmio incorrigível.

Disse-lhe que foi caminhoneiro, fazia muitas viagens ao Recife, nos anos cinquenta. Divertia-se.

Lá estando, reunia-se com os conterrâneos radicados naquela capital. Levava os estudantes a diversas praias, casas de espetáculos, jogos de futebol.

Pontuou que numa noite esteve com tio Gerson num ambiente acabarezado. Deram o maior show. Zeca, violonista e saxofonista de nomeada e o tio Gerson — dominava o palco, voz aveludada, cantor consumado —, prenderam a atenção da assistência. Realçou a execução de “Segredo”, de Dalva Oliveira. Foram muito aplaudidos.

Um parênteses. A minha tia Aurora Campos (Mãe Ó), ao saber que meu referido descendente iria ser batizado por Gerson, fez-me um pedido.

— Não quero que bote o nome do meu irmão, exigiu.

Por qual motivo, quis saber.

— Ora, quando este menino crescer vão lhe contar as estripulias daquele maluco, ri à beça!

Desnecessário dizer da minha afinidade com a dita família. Dona Petinha foi integrante do famoso grupo musical “Bandolins de Oeiras”, do qual era seu produtor cultural.

Quando as minhas netas, gêmeas, nasceram (09.06.2018), Helena e Olívia, Dona Petinha demonstrou interesse de conhecê-las. Fomos visitá-la. As pequerruchas foram recepcionadas com um sarau lítero-musical. Afloraram reminiscências.

Sempre aparecia para confraternizar-me com a aludida madame, que, na sua senectude, esbanjava afabilidade, benevolência.

Levava aparelho eletrônico que sonorizava playback’s. Entoávamos muitas canções. Dona Petinha adorava “Rosa”, de Pixinguinha!

Por Carlos Rumbem
Fotos de Arquivo Pessoal

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