Se Cássia Eller surgisse hoje – dez anos após sua morte – no cenário musical brasileiro teria muita dificuldade para chamar a atenção. Vivemos num mundo politicamente correto, muito caretinha e isso se reflete na MPB também. É só olhar para ver as cantoras que dominam a cena: todas praticamente iguais, com músicas inofensivas, fazendo poses de fofas, cheias de “shimbalaiês” e dançando num estilo pós-Marisa Monte (aquelas mexidas estranhas de braços).
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Não que Cássia Eller fosse unanimidade. Lançou discos com altos e baixos ao longo da carreira, assim como quase qualquer artista, criou hits e outras músicas que praticamente não foram ouvidas. Isso é uma coisa. A outra é a postura e a atitude dela. Cássia era desbocada, não queria posar de mulher-gracinha, era homossexual assumida, berrava no microfone e até colocava os peitos para fora durante seus shows. Tinha um jeito completamente tímido fora dos palcos, mas dentro deles era uma fúria. Agora tente imaginar isso hoje, num universo musical com cantoras como Sandy, Maria Gadú, Céu, Ana Cañas, Aline Calixto e algumas outras. Todas parecem ser clones umas das outras, com pequenas variações no estilo e todas, de alguma maneira, lembram Marisa Monte.
Infelizmente parece ser mesmo como disse a percussionista Lan Lan em entrevista ao R7: “Não vai surgir outra Cássia Eller”. Continuemos então ouvindo um bando de cantoras iguais e sem personalidade. Ou não.
*Odair Braz Junior é crítico do R7 e suas opiniões não refletem necessariamente as do portal
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