Frente a fatos como os que vivemos nos últimos tempos nas escolas, vendo crianças e jovens em risco, expostos a um excesso de inputs de violência (seja nos meios eletrônicos, seja nas interações off-line), tenho percebido pais e mães buscarem mais e mais saber o que está afetando e fragilizando tão fortemente a geração atual.
Famílias e escolas estão acompanhando, pasmos, um crescimento importante da violência em discursos e atos.
Seja auto infligida, seja direcionada a colegas ou adultos de referência, a violência parece ser um recurso aceito por nossas crianças e nossos jovens para resolverem situações com as quais não sabem ou não conseguem lidar.
Preocupadíssimos com esse cenário, pais e educadores discutem incessantemente o que está provocando isso.
Seriam as frustrações no relacionamento com amigos, seria a exposição a meios eletrônicos, seria um maior reconhecimento da prática de bullying em nossas escolas, seriam as altas demandas de estudo?
Proponho aqui um raciocínio invertido. Em vez de procurarmos os fatores de risco, sugiro olharmos para as ações de proteção. Sim, elas existem, e nós as conhecemos.
O vínculo, seja ele com um adulto ou com pares, mostra-se um dos principais fatores de proteção para nossas crianças.
Caso identifiquemos em nossos filhos uma dificuldade de formação de vínculos, de relacionamento com colegas, essa proteção poderá ser sempre protagonizada por um adulto de referência, na escola ou em casa.
Escutar a criança, investir tempo e paciência na relação é, por si só, um fator poderosíssimo para minimizar os riscos de adoecimento.
Há um consenso em diferentes estudos e países sobre o pediatra e a escola serem importantes redes de proteção para a promoção da saúde física da criança. Isso também é verdadeiro para a saúde mental.
A possibilidade de viver responsabilidades, frustrações, conquistas, relações e rotinas em um espaço de construção de autonomia e diálogo cria um ambiente fértil para o desenvolvimento saudável.
Não devemos afastar ou poupar nossos filhos da experiência escolar, pelo contrário, devemos incentivá-los a vivê-la.
Por outro lado, caso algum sintoma ou sinal seja percebido durante o desenvolvimento, a ida regular ao pediatra permitirá o acompanhamento adequado.
Desenvolvimento de aspectos como espiritualidade, olhar para o próximo e ter empatia levam o foco para além do nosso próprio umbigo, nos ensina a viver em sociedade e nos dá uma referência de proporção dos nossos problemas.
Saber que o nosso sofrimento é genuíno, mas não é nem o menor, nem o maior do mundo, contextualiza a maioria de nossas dificuldades.
Ensinar nossas crenças aos filhos, praticar ações de ajuda ao próximo em família, ensinar a conviver com diferenças e com o erro dos outros são atitudes que os ajudam não só a se tornarem pessoas melhores, mas a se sentirem mais fortalecidos.
Muitos outros são os fatores de proteção, por exemplo: prática de uma atividade esportiva, interesse e acesso a diferentes formas de arte e realização de atividades ao ar livre, de preferência com contato com a natureza.
A minha intenção aqui não é esgotar aquilo que gera uma condição de desenvolvimento saudável. Quero convidá-los a pensar não naquilo que devemos proibir como pais, mas naquilo que devemos proibir como pais, mas naquilo que devemos praticar e incentivar nossos filhos a valorizar.
Acredito que temos uma chave de ajuda importante!
*Cristina Godoi é mantenedora dos Colégios Albert Sabin e Vital Brazil e psiquiatra pela Santa Casa de São Paulo
Fonte: Veja