Um grupo de pesquisadores acaba de publicar uma das mais cuidadosas reconstituições do clima do passado. Ela revela que as temperaturas atuais não estiveram tão altas em 80% do tempo são as mais altas pelo menos desde o início da civilização humana.
Os pesquisadores combinaram registros de temperaturas pré-históricas de 73 lugares diferentes do mundo para contar as temperaturas da Terra dos últimos 11.300 anos. O estudo saiu na última edição da revista científica Science. O trabalho foi coordenado por Shaun Marcott, e realizada por equipes das universidades do Estado do Oregon e de Harvard, nos EUA.
Eles analisaram registros de várias regiões do mundo. Alguns são estudos de sedimentos no solo. Outros são avaliações a partir de fósseis de pólen. Há estudos a partir de amostras de gelo antigo em geleiras das montanhas ou nos polos.
O gráfico abaixo mostra como evoluiu a temperatura nos últimos 11.300 anos. As linhas de cores diferentes embaralhadas são os os 73 registros diferentes. A linha preta no meio é a média dos registros.
O histórico mostra que, desde o fim da era glacial, houve um longo e gradual aumento de temperatura por cerca de 5 mil anos. Depois o calor se estabilizou. Em seguida, houve um período de resfriamento também longo e gradual. Até cerca de 200 anos atrás. Então, as temperaturas começaram a disparar para o alto.
A reconstituição mostra que a temperatura das últimas décadas é uma das mais altas a mais alta dos últimos 11.300 anos. Esse período é chamado de Holoceno, ou Antropoceno. Começa com o fim da última era glacial. Marca o tempo de existência da nossa civilização humana.
O novo estudo confirma outros levantamentos de temperaturas passadas. O primeiro deles, do pesquisador americano Michael Mann, foi batizado de taco de hóquei, porque mostrava um longo período de temperaturas com variação mais gradual e mais frias, seguido por uma elevação brusca de temperatura nas últimas décadas. A forma lembrava mesmo um taco de hóquei.
Marcott, autor do estudo publicado agora, diz que a variação lenta e gradual do passado remoto é coerente com as variaçoes causadas por oscilações no eixo da Terra e na órbita do planeta em torno do Sol. Essas oscilações formam ciclos, conhecidos como Ciclos Milankovitch, e influenciam na alternância entre eras glaciais e períodos quentes, a cada 100 mil anos aproximadamente. Segundo Marcott, baseado nesses ciclos planetários, a Terra deveria estar esfriando. E mesmo que esquentasse por causa dessas variações planetárias, teria que ser num ritmo mais lento do que o visto agora. “A mudança climática atual não pode ser natural porque é ao mesmo tempo muito abrupta e vai na direção errada”, diz. O estudo confirma as bases científicas e as projeções do painel de ciência do clima da ONU, o IPCC, segundo o qual o aquecimento atual é derivado das atividades humanas.
(Alexandre Mansur)
Fonte: Revista Epoca