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Sem reformas, não há crescimento, dizem economistas em seminário do Correio

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Superada com o Plano Real, a hiperinflação não tira o sono dos brasileiros desde 1994. Mas, mesmo com os inegáveis progressos observados nos últimos 25 anos, o sinal de alerta continua aceso para problemas estruturais que, até hoje, não foram resolvidos. Apesar de ter sido o primeiro passo para tirar o Brasil da rota do caos, a estabilização da moeda não foi suficiente para garantir um crescimento econômico acima de 2,3% ao ano, em média, nas últimas duas décadas. Enquanto o país não resolver as pendências, as conquistas estarão em risco, alertam economistas que participaram, nesta segunda-feira (1/7), do Correio Debate: 25 anos do real, no auditório do jornal.

Sem abertura comercial, reformas da Previdência e tributária e desburocratização da economia, o sucesso do plano será sempre limitado. O caminho para o crescimento sustentável envolve, inevitavelmente, a priorização de uma agenda de reformas, “para dar mais produtividade ao Brasil”, afirmou o economista Pérsio Arida, um dos pais do Plano Real. O “grande teste” da estabilidade monetária, segundo ele, vai acontecer quando o Brasil voltar a crescer — “e de forma acelerada”, reforçou.

m dos principais desafios é combater o deficit público, tarefa que Arida definiu como “uma batalha constante”. Ex-presidente do Banco Central e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ele acredita que essa superação faz parte do “capítulo dois” do plano, que ainda está em andamento. Ao contrário da implementação, a segunda fase não é “uma história gloriosa, extraordinária”. É, nas palavras dele, “uma história de sustentação e de boas práticas econômicas”.

“Ao contrário do que muita gente pensa, nosso maior problema não é falta de demanda ou que a política fiscal está contracionista. Nosso problema aqui é criar clima propício, mais segurança jurídica, boa reforma tributária. Todo país emergente que cresce é de economia aberta”, lembrou Arida. A receita não é nova. Para que o país tenha sucesso na segunda fase, “tem de cortar gasto e lutar por mais eficiência”. “Não tem solução milagrosa para nada. É um processo”, acrescentou.

O economista-chefe do banco Votorantim, Roberto Padovani, que também participou do seminário, afirmou que o Brasil vive um terceiro capítulo. “A gente passou por um momento de enfrentar a cultura inflacionária do país, o Plano Real conseguiu fazer isso. Passamos por um segundo momento, em que a estabilização da economia permitiu que uma agenda de reformas caminhasse. E eu acho que, neste momento, estamos tentando completar essa agenda de reformas”, comentou.

Além de vencer o passado inflacionário, o Plano Real superou também o futuro incerto ao criar um ambiente propício para criar ferramentas de gestão da economia que são aplicadas até hoje, afirmou Padovani. “O Plano Real venceu um ambiente que era institucionalmente muito frágil e transformou a história brasileira”, ressaltou. Quando a nova moeda começou a circular, deixou para trás uma trajetória inflacionária alta de 80 anos. “Reduzimos a inflação de 5.000%, em junho de 1994, para 2%, em pouco mais de quatro anos. Algo espetacular”, disse o economista.

Padovani lembrou que o Plano Real abriu o caminho para instrumentos econômicos, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, o regime cambial flutuante, o sistema de metas de inflação. Agora, ele acredita que a reforma da Previdência será aprovada pelo “medo social de ruptura, como havia quando foi feito o Plano Real”, apesar das resistências políticas. Na opinião dele, a reforma tem o potencial de atrair investimentos e “permitir um choque na produtividade da economia”.

Obstáculos

O economista Claudio Adilson Gonçalez, da MCM Consultores Associados, afirmou que há um obstáculo político. Para ele, o Brasil não sairá tão cedo do atoleiro se o governo continuar com a teimosia de atrapalhar o Congresso na aprovação das reformas e com a fixação em assuntos poucos relevantes, conforme alertou. O risco do regresso de inflação alta está sempre presente, destacou. “Não se pode brincar com isso. As reformas e o ajuste fiscal são urgentes para garantir a estabilidade do país, a maior conquista do Plano Real”, disse no seminário.

Para o economista, a agenda de reformas estruturais é extensa e sofre grande resistência política. “Além disso, o PIB (Produto Interno Bruto) efetivo, comparado com o que se poderia ter em situações normais, tem um hiato de 6%, ou seja, está 6% abaixo do que poderia ser”, afirmou. Melhorar o ambiente do país poderia passar por medidas de estímulo de curto prazo, segundo Gonçalez. “A começar pela queda na Selic”, sugeriu.

Ele também frisou que a produtividade total do país mergulhou a partir de 2013 e agora está negativa. “A média dos últimos três anos, computado 2019, é de -35%. Isso rouba crescimento que decorreria das horas trabalhadas e dos investimentos na ampliação da produção”, disse. A atual crise foi creditada, pelo especialista, a investimentos equivocados nos governos petistas, ao sistema tributário ineficiente, à infraestrutura precária, à presença excessiva do Estado na economia, ao baixo nível de qualificação da força de trabalho e, sobretudo, ao fato de o Brasil ser um país muito fechado.

 

 

 

 

Fonte: Correio Braziliense

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