A Polícia Civil do RJ e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) prenderam nesta segunda-feira, 24, nove pessoas pelo envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo, executado com mais de 30 tiros em 16 de junho de 2019.
Segundo a força-tarefa da Operação Lucas 12, a viúva, a deputada federal Flordelis (PSD-RJ), é a mandante do crime. Ela não pôde ser presa por causa da imunidade parlamentar — quando somente flagrantes de crimes inafiançáveis são passíveis de prisão.
A Justiça ainda emitiu mandados de prisão contra dois homens que já estavam na cadeia: o filho apontado como autor dos disparos (Flavio) e um ex-PM (Marcos). De acordo com a polícia, antes do assassinato a tiros, Flordelis tentou matar o marido pelo menos quatro vezes, uma delas com veneno na comida.
O PSD divulgou nota em que anunciou “a suspensão imediata da filiação” da deputada (leia abaixo).
Diante do indiciamento da parlamentar, o corpo jurídico do partido adotará as medidas para a suspensão imediata de sua filiação e, a partir dos desdobramentos perante a Justiça, serão adotadas as medidas estatutárias para a expulsão da parlamentar dos seus quadros.
Resumo
- O inquérito concluiu que Anderson foi morto por questões financeiras e poder na família — o pastor controlava todo o dinheiro do Ministério Flordelis, hoje rebatizado de Comunidade Evangélica Cidade do Fogo.
- Após o crime, Flordelis relatou em depoimento e à imprensa que o pastor teria sido morto em um assalto.
- A deputada vai responder por cinco crimes: homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima), associação criminosa, falsidade ideológica e uso de documento falso.
Os policiais saíram para cumprir 17 mandados de busca e apreensão nas cidades do Rio de Janeiro, Niterói e São Gonçalo. Um dos endereços foi a casa da deputada, local do crime, no bairro de Pendotiba, em Niterói, na Região Metropolitana do RJ, onde quatro filhos foram presos.
“A investigação demostrou que toda aquela imagem altruísta e de decência era apenas um enredo para alcançar a posição financeira e política. Depois que ela alcançou esse objetivo principal de chegar à Câmara dos Deputados, ela colocou em prática esse plano criminoso intrafamiliar”, disse.
Já o delegado Antônio Ricardo Nunes, diretor do Departamento-Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa, destacou que um quinto da família se envolveu na execução.
“Temos aí 11 pessoas respondendo criminalmente, levando em conta que a família são 55, nós temos 20% da família envolvida nesse crime”, afirmou o delegado.
Presos na Operação Lucas 12
A polícia assim dividiu a participação na morte de Anderson.
- Presos na casa de Pendotiba (Niterói), local do crime:
- Marzy Teixeira da Silva (filha adotiva):cooptou Lucas para matar o Pastor Anderson. Também participou dos envenenamentos;
- Simone dos Santos Rodrigues (filha biológica):responsável pelos envenenamentos. Simone buscou informações sobre uso de veneno na internet;
- André Luiz de Oliveira (filho adotivo):ex-marido de Simone, foi flagrado em conversas com Flordelis combinando o envenenamento;
- Carlos Ubiraci Francisco Silva (filho adotivo):pastor, é citado por participação no planejamento da morte;
- Preso em Camboinhas (Niterói):
- Adriano dos Santos (filho biológico):auxiliou no episódio da carta falsa;
- Presa em Guaratiba (Zona Oeste do Rio):
- Andreia Santos Maia (mulher do ex-policial Marcos):auxiliou no episódio da carta falsa.
- Presa em Brasília:
- Rayane dos Santos Oliveira (neta):buscou por assassinos para as tentativas anteriores, como Lucas. Estava no apartamento funcional da mãe.
- Já estavam presos:
- Flavio dos Santos Rodrigues (filho biológico):apontado como autor dos disparos, já estava preso e teve um mandado de prisão expedido nesta segunda;
- Marcos Siqueira (ex-policial):auxiliou no episódio da carta falsa e já estava preso com mais um mandado de prisão expedido nesta segunda;
Além desses nove, foram denunciados:
- Flordelis dos Santos de Souza:é a mentora do crime. Responderá por homicídio triplamente qualificado; tentativa de homicídio duplamente qualificado; associação criminosa majorada; uso de documento ideologicamente falso e falsidade ideológica;
- Lucas Cezar dos Santos (filho adotivo):já estava preso, mas não teve mandado de prisão nesta operação.
A vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens.’” Desfiliação Uma nota assinada por Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, anunciou a suspensão da filiação e prevê a expulsão de Flordelis.
PSD esclarece que desde o início acompanhou o caso citado e defendeu o andamento e aprofundamentos das investigações.
Diante do indiciamento da parlamentar, o corpo jurídico do partido adotará as medidas para a suspensão imediata de sua filiação e, a partir dos desdobramentos perante a Justiça, serão adotadas as medidas estatutárias para a expulsão da parlamentar dos seus quadros.
Entenda o caso:
Anderson do Carmo foi morto, com mais de 30 tiros, na garagem da casa onde morava com a família, em Pendotiba, Niterói. Em junho deste ano, segundo a perícia, o pastor levou mais dois tiros após cair baleado no chão — um na lombar e outro no ouvido direito.
Em depoimentos conflitantes na investigação sobre por que Anderson foi morto, a polícia encontrou divergências nas versões e inconsistências nos depoimentos da família.
Os investigadores já sabiam que, além de diversas igrejas espalhadas pela Região Metropolitana, a família da deputada Flordelis e do pastor Anderson também tinha uma grande influência política na área. Já se discutia, por exemplo, indicar uma pessoa de confiança a prefeito de São Gonçalo nas eleições deste ano.
Em novembro, o MPRJ apontou que Flordelis era suspeita de fraudar uma carta em que um de seus filhos confessou ter matado Anderson a mando de um dos irmãos. A parlamentar, em entrevista, explicou que recebeu a carta das mãos da mulher de um preso.
“Estão tentando jogar sobre mim uma culpa de um assassinato que não é verdade, que não fui eu, é uma farsa, e vai aparecer o verdadeiro mandante”, declarou Mizael.
Com informações do G1