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Vale perde R$ 71 bilhões e tem maior queda da história

Foto: Arquivo / Agência Brasilvale 1

A Vale perdeu R$ 71 bilhões em valor de mercado nesta segunda-feira (28), a maior perda em um único dia na Bolsa brasileira, no primeiro pregão após o rompimento de uma barragem da mineradora em Brumadinho (MG),

É o reflexo mais imediato do receio de investidores sobre o impacto financeiro com o qual a empresa terá de arcar após a tragédia. Antes da perda da Vale nesta segunda, o maior tombo nominal na Bolsa era da Petrobras, que se desvalorizou R$ 47,3 bilhões em 24 de maio de 2018, segundo a Economatica.

Até a semana passada, a Vale era a terceira maior companhia brasileira na Bolsa, atrás de Petrobras e Itaú. Agora, perde também de Bradesco e Ambev. O que se perdeu nesta segunda equivale a cerca de todo o valor de mercado da empresa de celulose Suzano. Por enquanto, a Vale teve R$ 11,8 bilhões bloqueados (quase 50% do caixa da empresa em setembro de 2018) e foi multada em R$ 250 milhões pelo Ibama e em R$ 99,139 milhões pelo governo de Minas.

O rompimento da barragem matou 65 pessoas e existem quase 300 desaparecidos na região, segundo os Bombeiros. A queda na Bolsa reflete ainda a suspensão de uma política agressiva de pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio, que garantiu R$ 7,7 bilhões a acionistas em 2018.

A Vale tem peso de 11% no Ibovespa, principal índice da Bolsa, que recuou mais de 2% e fechou a 95.443 pontos. Outro efeito da queda das ações da empresa no mercado foi o giro financeiro recorde: cerca de R$ 24,5 bilhões. A máxima anterior havia sido de R$ 20,7 bilhões no primeiro pregão após a eleição de Jair Bolsonaro (PSL), em 29 de outubro do ano passado.

As ações da Vale recuaram 24,52% nesta segunda, a R$ 42,38. O tombo da Vale teve reflexo também sobre a Bradespar, que recuou 24,5%, a R$ 26,43. A companhia tem cerca de 6% papéis da Vale. Os demais acionistas da mineradora não têm ações em Bolsa. Em Nova York, os recibos de ações da Vale recuaram 18%, após caírem 8% na sexta, quando a Bolsa brasileira estava fechada.

Desde a tragédia, analistas têm repetido que o impacto do acidente para a companhia será menos sobre a produção e mais relacionado a questões jurídicas. “Estamos numa névoa, ninguém tem certeza do que vai acontecer. A reincidência pode ser um agravante”, diz Tiago Reis, da Suno Research.
Reis fala sobre o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), em novembro de 2015. A Vale tem 50% da Samarco e, à época, foi poupada pelo mercado financeiro. Após alguns pregões de baixa, a companhia entrou em uma trajetória de recuperação que a levou a uma valorização de mais de 200%.

Em relatório, o banco UBS disse que não está claro o impacto sobre a produção e a logística da empresa após a tragédia e questiona se as multas sobre a companhia não serão maiores desta vez. Para Reis, da Suno, tampouco a recuperação futura deve ter as mesmas características registradas desde Mariana. Naquela época, o preço do minério estava em baixa, a Bolsa sofria com a crise econômica e a aversão ao governo de Dilma Rousseff (PT) -o Ibovespa era negociado abaixo dos 40 mil pontos- e a própria Vale vivia incertezas corporativas que se dissolveram quando houve a reestruturação societária, em 2017.

Fundos de pensão das grandes estatais brasileiras (Previ, Petros e Funcef) controlavam a Vale via a empresa Valepar. Eles detinham ações com direito a voto (ordinárias), enquanto os minoritários tinham ações preferenciais. A reestruturação promovida em 2017 converteu os papéis ordinários, e a empresa migrou para o Novo Mercado, segmento da B3 destinado a empresas com as melhores práticas corporativas.

Esses fatores explicariam por que as ações saltaram de mínimas de R$ 8,60, em fevereiro de 2016, para os R$ 56,15 do fechamento da quinta-feira passada, véspera da tragédia. Do ponto de vista da produção, nesta segunda persistia a visão de que o dano deve ser pequeno sobre o resultados da companhia, mas existem riscos difíceis de mensurar.

“O rompimento da barragem poderá atrasar as concessões e licenças ambientais nas operações Brasil. Há também o risco de novos processos de investidores nos EUA, e rebaixamentos de agências de risco”, disse a corretora Guide, em relatório. A agência de classificação de risco Fitch cortou a nota da Vale para BBB-, de BBB+, destacando as despesas para cobrir multas e indenizações.

No sábado, a Standard & Poor’s havia dito que poderia rebaixar a Vale. A nota da agência é de BBB-. Analistas repetiram que a mina do Feijão, onde está a barragem que se rompeu, produz de 1,5% a 2,5% de todo o minério de ferro da Vale. “Mesmo que uma parte maior do complexo fique parada temporariamente, o impacto neste aspecto deve ser limitado”, disse a XP em nota.

Todo o sistema da região do Paraopeba produz 7% do minério da Vale, segundo dados da empresa do terceiro trimestre. Apesar da tragédia, a XP mantém a recomendação de compra dos papéis da empresa com horizonte de médio e longo prazo. “Entretanto, uma série de incertezas em relação ao impacto no curto prazo permanecem, portanto sugerimos cautela”, escreveu a corretora em relatório.

Fonte: FolhaPress

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