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Asma é um problema sério, mas brasileiros desconhecem seus riscos

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Esse é um dos principais achados da pesquisa A Asma na Visão e na Vida dos Brasileiros, iniciativa da revista SAÚDE, da área de Inteligência de Mercado do Grupo Abril e da biofarmacêutica AstraZeneca, com o apoio da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e da Fundação ProAr.

O levantamento contempla dados e respostas de 1 810 adultos de diferentes faixas etárias, representando todas as regiões do Brasil. Realizado via internet, traz percepções e equívocos do público em geral, assim como retrata o relativo desconhecimento sobre o tema mesmo entre os indivíduos com asma.

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“Não enxergar a gravidade da doença é um ponto crítico, afinal ela mata brasileiros todos os dias”, avalia o médico alergista Flávio Sano, presidente da Asbai. “O paciente precisa ser orientado desde o diagnóstico para entender que se trata de uma condição inflamatória crônica, ou seja, que requer tratamento prolongado”, defende.

Aliás, manifestações típicas da asma e de outros problemas respiratórios, como tosse e chiado, foram relatados por 42% dos 1 600 respondentes não diagnosticados com a doença. E o que preocupa é que metade desse grupo nem sequer procurou um serviço de saúde para checar a razão dos incômodos.

A demora para o diagnóstico correto é um entrave até mesmo para quem vai atrás do médico: 70% dos 210 portadores de asma foram informados de que tinham outra enfermidade antes de se bater o martelo sobre a presença da condição. “Uma das confusões comuns é ligar a falta de fôlego e a tosse à bronquite, que é uma inflamação mais geral nos brônquios”, explica o pneumologista Álvaro Cruz, da Fundação ProAr.

“A asma é mais específica, com certo padrão de recorrência e, na maior parte das vezes, associada à alergia”, esclarece. Nesses casos, a hipersensibilidade do aparelho respiratório leva a uma contração dos músculos em torno dos brônquios, causando a sensação de opressão no peito e respiração ofegante.

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Outro ponto que chama a atenção na pesquisa é o fato de 40% dos respondentes com asma revelarem nunca ter se submetido a uma prova de função pulmonar, a espirometria, capaz de constatar obstruções nas vias que levam o ar aos pulmões. Esse teste é especialmente indicado para investigar a fundo as formas mais graves da asma, quando não há resposta às medicações. A bem da verdade, 15% desse público nem ao menos passou por uma radiografia do tórax, refletindo, assim, a subutilização de exames cruciais para o monitoramento do quadro e a prescrição de um plano terapêutico.

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De acordo com Cruz, o sucesso do tratamento depende da identificação correta do tipo de asma. “Estamos falando de uma doença heterogênea, com predominância de manifestações na infância e de características alérgicas. Mas há também aquelas em que não se detecta nenhuma alergia e outros casos associados à obesidade”, conta o especialista.

Além disso, a frequência das crises — se elas se manifestam de forma contínua ou dão as caras algumas vezes ao longo do ano — também influencia as decisões para o controle do problema.

As consequências da falta de informação sobre asma

As lacunas de conhecimento sobre a asma fazem com que mais da metade dos respondentes sem a doença declare não saber sequer reconhecer uma crise. E boa parcela desse público tampouco tem ideia de que providências tomar diante de uma emergência do tipo — situação na qual, recomendam os experts, a pessoa tem que ser acalmada, ficar numa posição confortável e fazer uso de seu medicamento broncodilatador, a popular bombinha, até ser levada ao pronto-socorro mais próximo.

É também por desconhecimento que a prática de exercícios não é identificada por 34% do grupo com asma como fator de proteção contra a enfermidade. “A criança com esse problema muitas vezes é estigmatizada e deixada de lado nas aulas de educação física”, observa Cançado.

“Isso é um erro porque, com a doença sob controle, a atividade física amplia a capacidade respiratória. Não por acaso há pessoas que sofreram com crises de asma na infância, trataram, incluíram o exercício na vida e hoje são atletas de alta performance”, ilustra o médico.

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A pesquisa aponta, ainda, que 73% dos pacientes admitem não seguir todas as recomendações dadas em consultório. E isso, por sua vez, pode ajudar a entender outro achado perturbador: seis em cada dez dos participantes com asma foram internados devido a complicações no quadro em algum momento da vida — e 22% deles passaram um período no hospital no mínimo sete vezes.

Não para por aí: mais da metade desse grupo teve que recorrer a pelo menos uma consulta médica de urgência no último ano. “Essas pessoas estão tratando os sintomas, mas não a doença”, interpreta Cruz.

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O curioso é que, apesar do cenário alarmante, 67% dos pacientes acreditam estar com a doença controlada. “Alguns têm a percepção de que o problema só existe quando percebem os brônquios fechando”, nota Cançado. “Aí, quando saem da crise e sentem o alívio, julgam, erroneamente, ter tudo sob controle”, alerta.

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Como anda o tratamento e o caminho para o controle da doença

O alergista Flávio Sano destaca outro dado que pode ser ligado à alta taxa de hospitalização: 47% das pessoas com asma relatam não fazer uso regular de medicações para prevenir as crises. O preço dos remédios, bem como sua disponibilidade nos postos de saúde, é uma das barreiras apontadas para a falta de adesão aos medicamentos.

Mas Sano visualiza outra explicação: “Algumas pessoas ficam tão acostumadas às limitações impostas pela doença que acabam relaxando e não investem no tratamento”. É preciso vencer a inércia. Seguir o plano do médico como manda o figurino só agregará qualidade de vida.

O manejo da asma envolve duas classes de fármacos, utilizados por dispositivos inalatórios (as bombinhas). “A base é o uso de anti-inflamatório de manutenção, com corticoide. Como são inalados, esses medicamentos chegam direto à parede dos pulmões e têm poucos efeitos colaterais”, ensina Cançado. “A bombinha com broncodilatador, por sua vez, é prescrita para as crises, ou seja, busca alivar os sintomas”, diferencia.

Cançado lamenta, porém, que, no Brasil, as pessoas tendem a abusar desse segundo tipo. “Aí tem gente que passa mal e acusa a bombinha de ser ineficiente e incômoda. Até entre profissionais de saúde ocorre esse equívoco”, revela. Para a equação do tratamento ter um saldo positivo, o paciente deveria aderir mais a medicações e atitudes que previnem as crises.

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 (Ilustração: André Moscatelli/SAÚDE é Vital)

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Se quisermos zerar a mortalidade associada às crises de asma, a exemplo do que já ocorre em países como a Finlândia, a estratégia inclui disseminar conhecimento com campanhas de esclarecimento e conscientizar o paciente nas tomadas de decisão. “Uma coisa é certa: quem precisa ir duas ou três vezes no ano ao pronto-socorro está colocando a vida em risco. Temos de mudar essa cultura”, afirma Cruz.

A mudança passa por informar direito a população, capacitar melhor os profissionais da área e engajar pacientes e família. Exige fôlego, sim, mas é o único caminho para botar a asma no devido controle.

 

 

Fonte: Abril

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